‘Spotlight britânico’, filme narra investigação contra indústria farmacêutica
Está disponível na Netflix a história de um grupo de jornalistas investigativos que publica em um jornal tradicional uma tremenda denúncia abafada por anos.
A descrição, que caberia a “Spotlight”, vencedor do Oscar de melhor filme em 2015, serve perfeitamente para o documentário inglês “Attacking the Devil” (2016).
O filme conta como o “Sunday Times”, sob comando do editor Harold Evans, revelou, a partir de 1968, os problemas causados por remédios feitos com talidomida. Conhecido por iniciar campanhas sobre temas graves mas pouco noticiados pela imprensa, Evans foi um dos principais responsáveis por expor o problema na Europa.
A droga, testada em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, foi vendida a partir de 1957 para combater enjoos matinais típicos da gravidez. Seu uso levou à geração de milhares de bebês sem braços e pernas. No Reino Unido, a droga foi comercializada pela Distillers’, empresa que produzia bebidas como o uísque Johnnie Walker.
A Insight, equipe encarregada da investigação e liderada por Evans, precisou enfrentar o Judiciário para divulgar a história. Na época, a lei proibia que casos que tramitavam na Justiça fossem veiculados pela imprensa, sob a alegação de que a opinião pública poderia interferir no julgamento.
A disputa do jornal com o procurador-geral do Reino Unido e com a Distillers’ arrastou-se por anos e chegou até a Corte Europeia de Direitos Humanos, que decidiu a favor do “Sunday Times”. Graças à campanha iniciada por Evans, as famílias vítimas da talidomida conseguiram boas indenizações.
O comentarista de mídia do jornal britânico “The Guardian”, Roy Greenslade, considera o filme superior a outras obras que se inspiram no jornalismo investigativo, como “Todos Os Homens do Presidente” e o próprio “Spotlight”. “Ao ater-se rigorosamente aos fatos e valendo-se das testemunhas que falam diretamente para a câmera, [Attacking the Devil] supera todos eles”, escreveu o colunista no site do jornal.
Além de narrar a empreitada do “Sunday Times”, o documentário é uma espécie de biografia de Harold Evans, considerado um dos maiores jornalistas britânicos de todos os tempos.
A carreira à frente do “Sunday Times” durou 14 anos, até o jornal ser vendido para o empresário Rupert Murdoch. Evans é hoje editor especial da Reuters.