Jornalista viveu um ano só tomando decisões ecologicamente corretas

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POR ADRIANO MANEO

Imagine considerar os potenciais impactos ambientais e sociais em toda e qualquer decisão de nossas vidas, para que, em cada uma delas, sejamos 100% éticos. Foi exatamente isso que Leo Hickman, 43, ex-jornalista do “Guardian” se propôs a fazer com a mulher.

Durante um ano, em 2003, ele levou a cabo um experimento para discutir o quanto e como uma pessoa ou família podem fazer diferença no mundo a partir de decisões individuais. Nesse período, ele relatava suas impressões em sua coluna online no jornal inglês.

As decisões incluíam desde que fruta comprar, levando em consideração de onde vinha e que comunidades impactava, até o impacto energético de ligar o ar-condicionado em dias quentes, ou o sistema de aquecimento, indispensável no inverno inglês.

À época, o “Guardian” inglês não tinha uma seção de comentários de leitores, mas Hickman conta que, durante o ano, recebeu mais de 1.600 cartas e e-mails com sugestões de como viver de maneira mais sustentável.

“Houve muitos debates, porque não há certo ou errado nessa questão. Depende muito do ponto de vista de cada um”, disse a jornalistas da Folha que estiveram no Reino Unido para conhecer projetos e especialistas em meio ambiente, mudanças climáticas e sustentabilidade.

“Os leitores e o ‘Guardian’ gostaram e se interessaram, então continuei escrevendo sobre meio ambiente”, diz o jornalista que, até então, escrevia sobre entretenimento e comportamento.

Leo Hickman, 43, diretor e editor da "Carbon Brief" (Foto: Avener Prado/Folhapress)
Leo Hickman, 43, diretor e editor da “Carbon Brief” (Foto: Avener Prado/Folhapress)

Ele lançou um livro sobre a experiência, chamado “A Life Stripped Bare” (uma vida despida, em tradução livre) no qual incluiu muitas das contribuições recebidas pelo público.

No final de 2013, após 16 anos escrevendo para “Guardian”, ele percebeu que, após tantos anos no jornal, quando pensava em alguma pauta, não conseguia lembrar se já a tinha feito antes.

Foi quando decidiu tentar algo novo: aceitou uma proposta de emprego como consultor chefe de mudanças climáticas da WWF-Reino Unido, ONG de conservação ambiental, e, pouco mais de um ano depois, voltou ao jornalismo, como diretor e editor da “Carbon Brief”, revista inglesa online especializada em mudanças climáticas.

“De certa maneira foi o casamento perfeito entre minha experiência no ‘Guardian’ e na WWF”, afirma.

Hickman diz que o seu público atual é diferente: formuladores de políticas públicas, jornalistas, ONGs e acadêmicos (30% do Reino Unido e outros 30% do Canadá e Estados Unidos).  Um dos recentes destaques do site é uma matéria sobre a seca no Brasil.

Outro destaque é um diagrama interativo para entender as propostas e ações dos países para a COP-21, conferência global sobre mudanças climáticas que acontecerá em Paris neste mês.

Hickman também falou sobre a dificuldade de abordar o tema das mudanças climáticas nos jornais.  “[Mudanças climáticas] ainda é visto como um tema de baixa prioridade nas redações”, afirma.