‘Brasil foi pioneiro, mas está ficando para trás’, diz autor de livro sobre Aids

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“Histórias da Aids” (Editora Autêntica, 152 págs., R$34) narra a trajetória de uma das doenças mais marcantes da humanidade por meio de relatos e análises médicas. A obra foi coescrita por Artur Timerman, médico infectologista que atuou no combate à epidemia desde os primeiros casos, e Naiara Magalhães, ex-repórter da “Veja”.Naiara e Artur se conheceram quando ela ainda trabalhava na revista e recorria a ele para entrevistas. “Um dia, então, ela me mandou o livro dela”, conta Timerman, referindo-se a “Não É Coisa da Sua Cabeça”, sobre transtornos emocionais (Editora Gutenberg, 320 págs., R$ 31,90). Em conversa com o Novo em Folha, o médico diz que já tinha a ideia de transformar sua experiência em livro, dado o aumento significativo de casos de Aids no Brasil.

O país, primeiro a distribuir remédios anti-HIV no sistema público de saúde, tem ido na contramão do mundo hoje: houve uma alta de 21% nos novos infectados desde 2001, período em que os casos mundiais caíram em 38%.

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Capa de “Histórias da Aids”, coescrito por Artur Timerman e Naiara Magalhães (Crédito: Editora Autêntica/Divulgação)

“O Brasil foi pioneiro, mas está ficando para trás, fundamentalmente em prevenção: fala-se muito pouco sobre Aids nas escolas, as autoridades acham que é suficiente fazer propaganda no Carnaval e Parada Gay”, critica o médico. “E não é só isso, nossos medicamentos estão ultrapassados: um comprimido que reúne três remédios, incorporado no tratamento da Aids há uma década, chegou aqui só nesse ano.”

Para a confecção da obra, além das palavras do infectologista, foram escolhidas pessoas cujos casos fossem representativos e não caíssem em estereótipos. É o caso de Marieta, uma senhora de 66 anos que, ao descobrir ter sido infectada, indignou-se: “Onde já se viu falar para uma senhora de idade que ela tem HIV?”

O livro mostra como é possível levar uma vida plena sendo soropositivo. Ao mesmo tempo, porém, é um alerta. “Hoje, 30% dos novos infectados são pessoas abaixo de 25 anos, que não viveram o choque inicial da epidemia e terão a responsabilidade de se medicar por 50 anos”, adverte Timerman.