Ex-funcionário da Folha deixa texto com insulto ao jornal escondido

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A última reportagem produzida pelo ex-funcionário da Folha Pedro Ivo Tomé tinha escondido um insulto ao jornal. Em forma de acróstico [composição em que as primeiras letras de cada parágrafo formam, em sentido vertical, uma palavra ou expressão], o texto trazia a frase “Chupa Folha”.

Era o obituário intitulado “Assistente social vocacionada e pianista”, sobre Therezinha Ferraz Salles (1927-2015). Tomé havia pedido desligamento do jornal e, em seu último dia de trabalho [quarta-feira, dia 8], entregou o texto, que foi publicado na última segunda-feira (13). Depois disso, despediu-se cordialmente de colegas e funcionários da empresa.

O acróstico não foi notado até a manhã da última quarta-feira (15), quando começaram a circular tuítes e menções em blogs e em posts nas redes sociais. Num primeiro momento, as redes sociais divulgaram a falsa informação de que Tomé havia sido demitido, depois corrigida.

No próprio dia, a Folha emitiu um comunicado em que condenou “veementemente a atitude antiprofissional”. O jornal considerou que o ex-funcionário foi “irresponsável e antiético”, por desrespeitar os leitores da Folha e os familiares da pessoa falecida, que era retratada no texto. A uma pessoa próxima da família foi enviado um pedido de desculpas em nome do jornal.

Procurado pela Folha, Tomé negou por escrito que a formação do acróstico tenha sido proposital. “Lamento que o jornal tenha interpretado meu último obituário dessa forma”, disse, em resposta enviada por e-mail após solicitação. E lembrou que, na função de obituarista, havia procurado “retratar a vida dos homenageados com sensibilidade e qualidade literária, como demonstram meus textos”.

Segundo cálculos feitos pelo próprio jornal, a hipótese de casualidade da formação do acróstico mostra-se bastante reduzida, se não impossível: uma chance em 141,2 trilhões. Segundo o livro “Viver É Perigoso” (Três Estrelas, 2015), de Michael Blastland e David Spiegelhalter, a possibilidade de se morrer num acidente aéreo é de uma em 50 milhões.

Tomé estava no jornal desde 2012, e trabalhou em “Esporte” e “Cotidiano”, onde, desde abril último, foi titular da coluna “Mortes”. O jornal estuda as ações legais que tomará contra o ex-funcionário.