Tendência mundial, integração de TI a Redações ainda é lenta no Brasil

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Em abril deste ano, durante uma palestra na Universidade da Califórnia, o editor-executivo do “Washington Post”, Martin Baron, anunciou que a Redação do jornal contava com 47 profissionais de tecnologia trabalhando junto aos jornalistas, 43 a mais do que há quatro anos.

Esse movimento acontece em outros jornais pelo mundo. “The New York Times”, “Chicago Tribune” e “The Guardian” e o pequeno “La Nación”, da Costa Rica, já contam com equipes integradas de desenvolvedores e jornalistas.

Para promover a aproximação entre as áreas, surgem iniciativas como o programa Knight-Mozilla, que dá bolsas a desenvolvedores, hackers e especialistas em dados para que passem uma temporada nas Redações de grandes jornais, como “The Guardian”, “NYT” e o próprio “Post”, que é referência no quesito integração de profissionais de tecnologia à Redação.

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Profissional de Tecnologia da Informação trabalhando em um servidor. (Crédito: Eimantas Buzas/Shutterstock)

Com um orçamento generosamente maior do que o comum para desenvolver projetos, o jornal financia a formação em jornalismo de jovens desenvolvedores.

No Brasil, esse tipo de parceria ainda é rara. Para Marcelo Träsel, professor da PUC-RS e pesquisador na área de jornalismo guiado por dados, a tendência mundial de aproximação entre esses profissionais esbarra no momento difícil dos jornais. “Aqui essa integração é mais complicada no cenário atual, em que os veículos estão reduzindo as Redações e não contratando”, diz.

O jornal “O Estado de S. Paulo” tem uma equipe que conta com um programador, um cientista político e um jornalista (Estadão Dados). O grupo produz conteúdo jornalístico a partir de bases de dados, em formatos que misturam texto, mapas e gráficos interativos. “A pauta não parte da agenda comum do jornalismo nem de uma hipótese do repórter, mas sempre de uma base de dados”, afirma o jornalista José Roberto Toledo.
Na Folha, três profissionais da editoria de Arte fazem a programação e o design dos principais projetos multimídia, como as séries “Tudo Sobre”.

A integração com os programadores começa a acontecer em outros especiais, como no recente “Mad Men – A Série e a Notícia”, em que um profissional da TI participou da elaboração desde a primeira reunião de pauta e para o qual foi criado um template novo. “A integração TI-Redação é uma prática que precisa ser aprofundada”, defende Leonardo Cruz, editor do site da Folha.

“É difícil encontrar profissionais capacitados simultaneamente em tecnologia e jornalismo. É preciso trabalhar para formar pessoas com esse perfil para integrar times que possam pesquisar novas formas de fazer jornalismo. Juntar esses dois tipos de profissionais no mesmo ambiente somente para garimpar dados é desperdício de talentos”, diz Fernando Nemec, diretor de Tecnologia da Folha.