Diretor do Instituto Paulo Freire cobra defesa do direito à alfabetização
Por Carolina Linhares
Com redução de 0,1% na taxa de analfabetos com mais de 15 anos desde 2011, o combate ao analfabetismo está estagnado no país. Na opinião do professor da Faculdade de Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, cabe à mídia e à sociedade exigir avanços.
“O tema do analfabetismo não apareceu na pauta das eleições. Eu tinha fome de falar sobre isso”, disse Gadotti em palestra para jornalistas da Folha nesta terça (28), na sede do jornal.
“A demanda da alfabetização vem de pobres e negros, espalhados no meio rural e sem barganha política. É preciso que a sociedade seja convocada para defender esse direito”, disse.
Para o professor, o Estado prefere investir nas crianças seguindo o conceito de “alfabetização na idade certa”. “Essa ideia é equivocada e deixa de lado 46% de analfabetos, que têm mais de 60 anos”, afirmou.
Outro erro, segundo Gadotti, foi o afastamento da sociedade civil e do movimento sindical na reestruturação do programa Brasil Alfabetizado, em 2007. “O programa foi entregue a municípios que não tinham tradição de Educação de Jovens e Adultos”.
POLÍTICAS FRAGMENTADAS
Para Gadotti, a descontinuidade e a fragmentação das políticas públicas são “o grande mal da educação brasileira”. “A repartição federativa é ruim, não há um sistema nacional de educação. As boas políticas são as colaborativas entre as três esferas do governo”, disse.
Desde a Constituição de 1988, o país se propõe a eliminar o analfabetismo em até dez anos. A promessa foi renovada em 2014, com o Plano Nacional de Educação. O número mais recente, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2013, aponta que 8,5% dos brasileiros com mais de 15 anos não sabem ler e escrever.
“Eu não acredito que essa meta será cumprida até 2024”, afirmou Gadotti. “Com a troca de ministros no início do ano, ainda não vimos o carro da educação brasileira andando em 2015”.
EMANCIPAÇÃO
Gadotti, que foi chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Educação da capital entre 1989 e 1990, na gestão de Paulo Freire (1921-1997), defende as ideias do educador.
O professor diz que a educação não pode ser um fim em si mesmo e, principalmente na educação de adultos, deve haver uma perspectiva emancipadora e política. Isso estimularia os alunos a mudarem sua realidade.