‘Assessor de imprensa não é jornalista’, afirma Eugênio Bucci
Por Leonardo Neiva
“Somos um país que não sabe a diferença entre jornalismo e assessoria de imprensa.” A frase é do jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci, que fez críticas ao Código de Ética da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) nesta quarta-feira (15), em palestra para jornalistas da Folha, na sede do jornal.
Bucci afirmou que o documento permite a atuação de assessores de imprensa dentro das redações de jornais, apesar do conflito de interesses existente entre as profissões. “Deveriam existir dois códigos diferentes se a entidade quisesse representar as duas atividades”, disse.
Autor da apresentação da nova tradução do livro “Todos os Homens do Presidente” (ed. Três Estrelas, 424 págs.), Bucci citou o caso Watergate –que levou à renúncia do presidente americano Richard Nixon, em 1974– como o evento que firmou a tradição do jornalismo investigativo, demonstrando a força da imprensa como órgão fiscalizador do poder.
O jornalista também defendeu a existência de grandes redações para garantir uma retaguarda sólida aos profissionais. Segundo ele, essas instituições devem funcionar como escolas formadoras do pensamento.
Durante o evento, Bucci apontou para a complexa relação entre jornalismo e poder no Brasil. Ele considera que o jornalismo não nasceu de uma demanda da sociedade civil no país, e sim a partir de uma iniciativa do Estado, o que enfraqueceu a fiscalização do poder pela imprensa.
Para o jornalista, essa falta de vigilância do poder tem origem histórica, já que os primeiros censores teriam chegado ao Brasil nos navios da família real portuguesa, em 1808. “Somos um país em que a censura nasceu antes da imprensa”, afirmou.
Bucci também condenou a publicidade oficial, que, para ele, beira a troca de favores. “No Brasil, é difícil saber se a imprensa contestou mais o poder ou se serviu mais o poder”, declarou.