Repórter da Lava Jato defende divulgação de informações sigilosas
Por Daniel Castro
O repórter especial da Folha Mario Cesar Carvalho, que cobre a Operação Lava Jato, defende a publicação de informações sob sigilo da Justiça se elas forem de interesse da sociedade. Para ele, apesar dos riscos de cometer erros, a imprensa não pode esperar que os documentos se tornem públicos.
“Talvez fosse um caminho bom para uma publicação histórica, mas não para um jornal diário, com a urgência e a cobrança do leitor”, afirmou nesta segunda-feira (30), em palestra na Cátedra de Jornalismo Octavio Frias de Oliveira, do Centro Universitário Fiam-Faam. O auditório, com capacidade para 300 pessoas, estava lotado.
Segundo o repórter, as informações em “off”, em que se protege a identidade da fonte, são imprescindíveis para a apuração, mas exigem cuidados. Ele disse, por exemplo, que não publica nada sem checar com pelo menos três fontes que corroborem o fato.
“O ‘off’ envolve uma relação de profunda confiança. A fonte está lhe passando uma informação que é sigilosa, porque ela tem interesse naquilo. A grande questão é saber se esse interesse é lícito e se coincide com o interesse público.”
Carvalho atribuiu a descoberta do esquema investigado pela Lava Jato ao “fator Paraná”: o Estado tem uma tradição na investigação de crimes da área econômica que remonta ao escândalo do Banestado, julgado pelo juiz Sergio Moro em 2004.
“Por uma sorte histórica, essa apuração [Lava Jato] caiu com os maiores especialistas do Brasil”, disse, em referência a Moro e a agentes, como a delegada da Polícia Federal Erika Marena e o procurador da República Deltan Dallagnol.
O uso da delação premiada pela Justiça e o foco dos procuradores na recuperação de valores no exterior foram elogiados pelo repórter, assim como a percepção de que a sociedade está cada vez mais intolerante à corrupção.
Para ele, as pessoas sentiram-se enganadas pelo discurso do governo federal de que a Petrobras, por meio dos recursos do pré-sal, mudaria os rumos da educação brasileira.
“As pessoas acreditaram cegamente nisso, mas quem acompanha a Petrobras sabe que as bases desse sonho eram problemáticas”, afirmou.