Quem quer ter um bilionário?
O ano de 2013 não estava sendo bom para o “Washington Post”. No prestigioso jornal da capital americana, notório por publicar a série de reportagens mais famosa do país (o escândalo Watergate), os ânimos estavam em baixa. A receita caíra 44% desde 2007, a circulação diária, 38% em dez anos e, no mesmo período, mais de 400 funcionários foram demitidos. Ao mesmo tempo, o jornal enfrentava dificuldades com a transição para as plataformas digitais.
O jornal seguia vencendo prêmios, inclusive três Pulitzer’s naquele ano, mas o orgulho de ser o “Washington Post” se tornara um sentimento de “ainda estamos aqui”, como relata Isabel Hülsen em matéria para a revista alemã “Der Spiegel”.
A maré mudou em agosto, quando o bilionário Jeff Bezos, fundador da Amazon, comprou o jornal, que por 80 anos pertencera à família Graham, pelo preço de US$ 250 milhões.
A aquisição não mudou apenas a quantidade de dinheiro em caixa. O jornal entrou em um período de mudança de cultura para encontrar meios de transpor a sólida tradição do jornal impresso para meios digitais.
Sem as restrições econômicas de um jornal em crise, os jornalistas ganharam a oportunidade de ver suas propostas implementadas. Duas das primeiras mudanças foram as criações das seções “Morning Mix“, uma coleção das reportagens mais relevantes em circulação nas redes sociais, e “PostEverything“, espaço para que qualquer pessoa possa postar artigos opinativos no website do jornal.
Uma nova concepção do jornal está sendo incentivada. Após anos direcionado a manter o posto de mais importante jornal da capital americana, a nova direção quer transformar o “Post” em veículo nacional, até global.
Uma das estratégias adotadas para multiplicar o número de leitores além das fronteiras do Distrito de Columbia foi o “Partner Program“, que oferece acesso gratuito ao site e a todos os aplicativos do “Post” para assinantes de centenas de jornais locais nos EUA e parceiros internacionais, como o “Haaretz”, de Israel, e “The Japan News”.
As novas estratégias já produzem alguns resultados. Desde a venda para Bezos, cerca de 100 funcionários foram contratados, em sua maioria blogueiros experientes e jornalistas multimídia. Em setembro de 2014, o jornal registrou 42 milhões de usuários cadastrados em seu site, 47% a mais do que no ano anterior.
Esse número deve se multiplicar nos próximos meses, quando os aplicativos do jornal para tablets e smartphones forem lançados, incluindo uma versão desenvolvida especialmente para o Kindle, e-reader da Amazon. Leitores do Kindle receberão seis meses de acesso ao “Post” digital de graça e os seis meses seguintes custarão apenas US$ 1.
As inovações estão recuperando o “Post” do declínio, mas não compõem um parâmetro confiável para outros jornais. Nem todos podem contar com as centenas de milhões de dólares de Jeff Bezos.