Jornais erraram ao integrar suas redações, diz o colunista Leão Serva
Por Amanda Massuela
O modelo de negócios do jornalismo encontra-se numa encruzilhada: ainda que a maior parte dos leitores esteja na internet, a receita que faz a roda girar continua sendo gerada pelo papel.
Na tentativa de resolver esse impasse, os jornais decidiram unir o impresso ao digital na mesma Redação — uma “decisão equivocada”, segundo o jornalista Leão Serva, que examina o tema mais a fundo no livro “A Desintegração dos Jornais” (ed. Reflexão).
“Submeter a lógica da internet à Redação convencional é submeter o futuro ao passado”, disse, durante um debate promovido pela Folha nesta quarta (18).
Com mediação de Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal, o encontro também contou com a participação de Vera Guimarães, ombudsman da Folha, e de Eugênio Bucci, professor da ECA-USP e colunista do jornal “O Estado de S. Paulo”.
O principal problema das fusões, segundo Serva, está no que chama de “submissão da virtude ao vício”. Com as redações integradas, a produção para o on-line perde vigor, pois acaba contaminada por hierarquias que não deveriam fazer parte de sua dinâmica.
“Os textos aumentaram e, hoje, demoram mais para serem publicados por conta dos controles de qualidade”, diz Serva, que foi um dos criadores do portal iG há 15 anos. “Esse controle é necessário, de fato, mas o jornalismo online não publica coisas apressadamente e falsas, como diz o senso comum. Ele é filho da velocidade das agências de notícia, e não de irresponsabilidades e estereótipos que construímos.”
Vera Guimarães, no entanto, vê benefícios na Redação unificada. “Ao agregar o profissional do impresso no online, melhoramos a qualidade do jornalismo digital, e não o contrário.”
A revolução tecnológica — que Eugênio Bucci entende como um “prolongamento da revolução de Gutenberg”–também suscita outras questões urgentes dentro das empresas jornalísticas. Umas delas, segundo Bucci, é a necessidade de uma perspectiva institucional de sustentação do jornalismo, já que a democracia precisa de grandes redações independentes.
“Onde estará o olhar capaz de questionar os problemas da gestão da coisa pública? É para isso que a democracia inventou a imprensa, e por isso que precisa dela. Essa interrogação ainda está sem resposta”, disse.