Elio Gaspari aconselha jovem jornalista a criar seu próprio banco de dados

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A 59ª edição do Treinamento em Jornalismo Diário da Folha começou nesta segunda-feira, 2, com palestra do colunista Elio Gaspari, que falou sobre sua visão da profissão, lembrou alguns casos e deu vários conselhos aos ingressantes.

Após uma introdução bem-humorada, em que comentou as incertezas sobre o futuro do jornalismo (“Ninguém sabe para onde vai a profissão. Se você souber, pegue um avião para Nova York agora e venda essa informação, que você vai ganhar muito dinheiro”), Gaspari disse que o jornalismo se sustenta pela curiosidade. “Somos pagos para ser curiosos. Enquanto se tem curiosidade, o jornalismo é a melhor coisa do mundo. Quando essa curiosidade se torna um fardo, é porque se está no lugar errado.”

O colunista aconselhou os jovens a construírem um banco de dados próprio. Ele seleciona diariamente de cinco a dez reportagens de jornais e as armazena em seu computador, em um software que lhe permite pesquisar por palavra, data, local, etc. “No começo, só dá trabalho, mas, depois da ficha 500, você começa a perceber os resultados”, disse. Ele contou que muitas vezes é “editado” pelo seu banco de dados. “Tenho certeza de algo, procuro e não acho. É como se o computador me dissesse ‘quer escrever, vá em frente, mas eu não tenho isso aqui’.”

Outros conselhos de Gaspari:

  • Cuidado para não se tornar um jornalista de Google. As informações disponíveis ali para o jornalista são as mesmas para qualquer pessoa, que não precisa do repórter para obtê-las.
  • Cultive fontes da sua geração. Hoje elas podem ser apenas recém-formados, mas, daqui a alguns anos, ocuparão posições de comando.
  • Ex-ministros, ex-chefes de departamento, ex-comandantes são ótimas fontes. Os “ex”sabem muito e os aposentados estão esquecidos, enchendo os netos com suas conversas sobre água, energia, petróleo. Eles vão adorar falar com um jovem jornalista.
  • Jamais brigue com assessor de imprensa. Eles estão apenas fazendo o trabalho deles. Omitem informações, se necessário, porque são pagos para isso.
  • Não hostilize as novidades tecnológicas. Desprezar o uso de novas tecnologias é jogar oportunidades fora. Saiba o mínimo para que questões de tecnologia não virem obstáculos à apuração.
  • Não acredite na força do logotipo. Você é você, não a empresa para a qual trabalha. Tentar ganhar legitimidade pelo veículo em que está pode impedi-lo de criar sua própria legitimidade.
  • Sem antropofagia profissional. Os jornalistas de veículos concorrentes são mais colegas do que rivais. Prejudicar o trabalho de um concorrente não valoriza o próprio trabalho e queima relações que podem ser importantes no futuro.
  • Não desperdice tempo em redes sociais. Seu dia, como o do investidor Warren Buffet, tem apenas 24 horas. Em vez de navegar nas redes petista ou tucana, leia livros.
  • Nunca abra mão do contato pessoal com as fontes. Contato por telefone só funciona depois de uma relação estabelecida e o contato por e-mail não passa de dois monólogos em paralelo.

Questionado sobre o que o motiva a seguir escrevendo suas colunas, Gaspari disse: “Eu me divirto muito. No dia em que eu deixar de me divertir, vou prestar vestibular para odontologia”.