Em crise, USP tem dificuldade em se relacionar com a imprensa, dizem jornalistas

paula

Em meio a uma de suas mais graves crises financeiras e a problemas ligados à segurança dos campi, a USP (Universidade de São Paulo) enfrenta dificuldades para atender demandas e construir um elo sólido com a imprensa, na avaliação de profissionais dos principais veículos jornalísticos do Brasil.

O repórter especial de Ciência+Saúde e colunista da Folha, Marcelo Leite, o editor especial do “Estado de S. Paulo”, Roberto Godoy, e o chefe de redação do “Fantástico”, da TV Globo, Álvaro Pereira Júnior, participaram nesta segunda-feira (10) de debate sobre a relação entre a USP e os meios de comunicação.

A mesa foi realizada na universidade e mediada pelo professor da Escola de Comunicação e Artes da instituição Eugênio Bucci.

Nos jornais impressos, segundo o repórter da Folha, a universidade é mais citada em matérias sobre problemas financeiros, estruturais ou episódios de violência do que em reportagens a respeito de sua produção científica.

Para ele, isso é resultado de uma combinação entre a grande quantidade de ex-alunos nas redações, a coincidência entre públicos dos veículos e da instituição e a dificuldade de comunicação entre jornalistas e membros da comunidade acadêmica.

“É difícil, por exemplo, conseguir o contato de professores pelo site. A USP não sabe falar com jornalistas. Com 30 anos de jornalismo científico, não sou procurado pela universidade”, disse.

Nos últimos meses, os principais assuntos relacionados à USP no noticiário brasileiro foram a greve de professores e funcionários da instituição, que durou quase quatro meses e terminou em setembro deste ano, e a morte do estudante Victor Hugo Santos durante uma festa na Cidade Universitária.

Na opinião de Pereira, a instituição conseguiu aumentar sua visibilidade nos últimos anos, mas ainda é coadjuvante em relação a outras grandes universidades do mundo.

“A USP está mais conectada, menos aristocrática, mais classe média. No entanto, não posso dizer que ela está na vanguarda da ciência mundial, em termos de pesquisa”, avaliou.

De acordo com o chefe de redação do “Fantástico”, a USP também erra ao divulgar, no mesmo espaço em seu site, matérias sobre a produção acadêmica e notícias institucionais, que não interessam ao grande público. “Fica parecendo uma agência de notícias da Coreia do Norte”, brincou.

Durante o debate, Godoy fez um panorama da relação histórica entre a USP e o jornalismo. Em 1934, Júlio de Mesquita Filho, então diretor do “Estado de S. Paulo”, liderou a campanha pela criação da universidade.

A mesa fez parte do ciclo “A USP e a Sociedade”, série de eventos em comemoração ao aniversário de 80 anos da universidade. A programação segue até o dia 24 de novembro e está disponível no site da USP.