Erro em uma pesquisa pode comprometer imagem de todas, diz diretor do Datafolha
Responsáveis por grande parte da emoção que envolve os processos eleitorais – em especial, quando se trata da imprevisível disputa deste ano–, as pesquisas de intenção de voto são, para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, um meio de ajudar o eleitor a entender de que forma está inserido na política.
A tarefa, porém, é espinhosa. “É difícil explicar para as pessoas que, com uma amostra de, por exemplo, 2.000 entrevistados, é possível representar mais de 140 milhões de eleitores”, disse, durante palestra realizada nesta segunda-feira (22), na Cátedra de Jornalismo Octavio Frias de Oliveira, na faculdade Fiam-Faam, em São Paulo.
Por isso, segundo ele, erros como o cometido pelo IBGE na divulgação da Pnad 2013 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) –que, em sua primeira versão, apresentava indicadores incorretos de desigualdade e renda no Brasil– comprometem a imagem de todos os institutos de pesquisa.
Antes de chegar às manchetes dos jornais, as pesquisas Datafolha passam por um complexo processo de desenvolvimento, checagem e análise, que envolve quatro etapas e profissionais de diferentes áreas: estatísticos, sociólogos, psicólogos e jornalistas.
No briefing, fase embrionária do processo de levantamento dos dados, os clientes –no caso das pesquisas eleitorais deste ano, Folha e TV Globo– listam quais assuntos devem compor o produto. Para resultados sobre a corrida presidencial, normalmente são levados em conta, além das intenções de voto, tópicos como rejeição dos candidatos, expectativas econômicas e inserção dos eleitores nas classes sociais.
Com todos os assuntos acertados, passa-se à etapa do planejamento, que inclui a formulação do questionário e a definição das amostras (pessoas que serão entrevistadas). “O princípio básico da pesquisa é que ela contemple todos os segmentos da sociedade. A gente cria uma representação de um universo maior. É como uma maquete”, explicou Paulino.
Essa é a primeira eleição na qual todos os pesquisadores do Datafolha vão a campo com tablets –antes, as entrevistas eram registradas em pranchetas. Cada profissional sai das sedes espalhadas pelo Brasil sabendo quais categorias de pessoas irá abordar. Todos os dados são enviados automaticamente ao instituto.
Uma equipe de checadores compara as informações com levantamentos anteriores e entra em contato com entrevistados para conferir algumas respostas, antes de prosseguir para a análise e cruzamento dos dados e posterior divulgação. “Uma hora depois de concluída a pesquisa eleitoral, ela segue para o Jornal Nacional, G1, Folha.com e UOL. Por isso, não pode ter erro de informação”.
MARGEM DE ERRO
Para o diretor do Datafolha, a margem de erro –de dois pontos percentuais nas pesquisas eleitorais do instituto– é um dos conceitos que determinam os limites do trabalho estatístico. Ela expressa o alcance do intervalo de confiança de um determinado resultado de pesquisa. “Muito se cobra dos institutos que mostrem um número preciso. Mas, na verdade, o instrumento não permite isso. A gente divulga o intervalo.”
Outro problema ligado à publicação de pesquisas eleitorais, de acordo com Paulino, é que, quando são apresentados pelos veículos de comunicação, os resultados muitas vezes já estão defasados. “Um levantamento divulgado hoje, por exemplo, se refere a entrevistas feitas alguns dias antes. Nesse tempo, a curva continua. Mesmo assim, muita gente lê como se aquilo fosse uma projeção do que vai acontecer”, disse. “A projeção só é perceptível quando se observa a sequência de pesquisas”, completou.
Durante a palestra, Paulino, que dirige o Datafolha há 27 anos, apresentou ainda tendências da corrida presidencial deste ano e falou sobre o panorama histórico das pesquisas eleitorais.
Criado em 1983, o instituto nasceu como departamento de pesquisas e informática do Grupo Folha da Manhã. Com o tempo, as atribuições do setor cresceram e ele se tornou uma empresa independente. Hoje, o Datafolha é um dos mais importantes institutos de pesquisa de opinião do Brasil.