Sozinhos, números absolutos podem trazer informação imprecisa ou errada

Sabine Righetti

Os números são traiçoeiros –especialmente os absolutos que, sozinhos, não dizem nada ou ainda podem passar uma informação errada.

Quer ver?

Durante o 2º Treinamento em Ciência e Saúde da Folha fizemos um levantamento sobre casos de dengue nos países mais visitados pelos brasileiros.

O exercício fazia parte de uma apuração para um especial sobre dengue produzido pela turma, que foi publicado no último final de semana (leia aqui).

A novidade é que a dengue está se aproximando de países mais frios, onde não chegava antes. Os EUA, país mais visitado pelos brasileiros, passaram a registrar casos da doença em 2010.

Pois bem. Os números absolutos mostraram que os EUA registraram 543 casos da doença no ano passado. Já o Chile, que também é um destino comum de turistas brasileiros, teve 39 casos.

Então os EUA têm mais casos de dengue do que o Chile? Não, de forma nenhuma.  Para saber qual país tem mais incidência da doença é preciso considerar a população total.

Os EUA têm 313 milhões de pessoas; o Chile tem 18 milhões. Proporcionalmente, os EUA registram um caso para cada 576 mil pessoas, enquanto o Chile registra 1 caso para cada 461 mil.

Agora já dá para ter uma ideia de que a incidência da doença é maior no Chile do que nos EUA. Mas a informação ainda não está totalmente clara.

DENOMINADOR COMUM

Uma boa saída para simplificar a informação para o leitor é usar um denominador comum. Por exemplo, a incidência de uma determinada doença a cada 100 mil pessoas de um determinado país. É assim que a OMS (Organização Mundial da Saúde) faz suas contas.

Seguindo esse cálculo vemos que os EUA têm 0,17 caso para cada 100 mil pessoas e o Chile tem 0,21 caso por 100 mil pessoas. Não fica mais claro?

Mas essa incidência é alta ou baixa? Precisamos, agora, de uma comparação para dimensionar os dados. Eu tenho uma boa: o Brasil tem 734 casos de dengue para cada 100 mil pessoas. Ou seja: incidência altíssima de dengue.

A comparação usando um denominador comum é muito mais clara, mais informativa e até mais impressionante do que os dados divididos pela população total.

Já os números absolutos lá do começo do texto, sozinhos, não dizem muita coisa –e ainda podem levar a conclusões equivocadas.