O que define um bom especialista?

Sabine Righetti

Nesses dias, em uma conversa com os trainees, surgiu uma pergunta interessante: o que define um bom especialista?

Ou seja: como escolhemos a pessoa com quem vamos conversar para analisar, comentar ou explicar um fenômeno sobre o qual estamos escrevendo?

As respostas da turma foram bem interessantes.

A ideia geral é que o especialista é alguém com notável conhecimento sobre um determinado assunto.

Mas isso não se traduz necessariamente em uma pessoa que tem acúmulo de títulos.

“Um pescador é tão especialista quanto um oceanógrafo. Cada um a sua maneira, mas ambos especialistas”, diz Giovanni Bello, trainee do programa.

Isso significa que dependendo da reportagem e da sua abordagem, é mais válido ouvir um ou outro (ou ambos).

“A depender do assunto, um acadêmico pode ser inútil.”

ESCOLHA

E como escolher um bom acadêmico? Um economista, um biólogo, um médico para comentar um fenômeno?

Para a trainee Ione Aguiar, um bom acadêmico tem uma combinação de reconhecimento entre seus pares e aprofundamento em um assunto específico.

Trocando em miúdos: um bom químico é aquele que a própria ciência, que tem suas próprias metodologias de avaliação, valoriza.

O bom especialista também deve ter o guarda-chuva de uma instituição: médico de um determinado hospital, professor de tal universidade, especialista de tal instituto de pesquisa.

E importante: não adianta conversar com alguém famoso, mas pouco reconhecido academicamente.

Um exemplo?

“Ninguém consulta o dr. Robert Rey (o doutor Hollywood) em reportagens sobre medicina”, explica Aguiar.

NOVOS NOMES

Depois de encontrar boas fontes é preciso encontrar, de novo, boas fontes.

Explico.

Não adianta conversar sempre com os mesmos especialistas em direitos da criança, em finanças pessoais ou em aquecimento global. Eles tendem a dizer sempre a mesma coisa.

Temos de diversificar, encontrar novos nomes, pesquisar, conversar com especialistas de fora da sua cidade ou até mesmo do seu país.

Se você é estudante de jornalismo ou jornalista, como faz para encontrar bons especialistas? Comente!

 

Comentários

  1. Sabine,

    tenho tentado relacionar o conceito de legitimidade epistemologica, usado em ciências humanas e em economia comportamental-, com jornalismo. Talvez ajude aí, embora seja uma discussão acadêmica.

    Tem legitimidade epistemologica quem tem reputação, rigor, coerência interna no discurso e validade empírica das pesquisas. Na prática do jornal diário, acho que o jornalista passa longe de ter tempo pra avaliar isso, a não ser que já tenha uma lista de boas fontes na área que escolheu (e mesmo assim a matéria pode exigir que ele busque outras fontes). E tem isso que você disse, diversificar as fontes é essencial.

    Um guia rápido para ver se a fonte é boa ou não acho que deveria incluir, por esse prisma, os prêmios que ele ganhou na carreira, o nome da instituição a que ele está ligado, o tanto de artigos e livros que ele escreveu e que foram bem avaliados pelos pares (essas coisas dá para checar rápido). Pesquisador ligado a suspeitas de fraudes científicas também não é legal entrevistar, porque aí o rigor, a validade empírica e a coerência interna podem ter falhas graves,

    Tenho um professor que não curte um economista em específico. Mas o economista ganhou um Nobel e ele acha que o cara tem uma baita importância pelo prêmio e pelo prestígio que dá. Meu professor discorda da obra, mas reconhece a importância até pelo prêmio.

    E pra terminar acho que um pescador pode sim ser mais indicado que uma fonte acadêmica em muitos casos. Mas, a meu ver, jornalista não pode escolher lado e nem mostrar preferência por esse ou aquele setor de atuação. Tem que ver quem está mais próximo do assunto tratado e, de modo pragmático, selecionar a fonte. Posso estar enganado, mas acho que isso está alinhado ao projeto da própria Folha.

    Abs

  2. Sabine.
    A resposta ao Júlio, nos mostra que deve rever seus conceitos.
    Temos vistos vários artigos acadêmicos publicados, outros transformados em Projetos que não se justificaram. Quanto à instituição renomada, conheço alguns que estão lá por conta de certo “apadrinhamento”. Claro, tu não precisas concordar, tenho meus conceitos e tu os teus.

  3. Uma especialidade,tem que ser concluída,por exemplo numa carreira da área de saúde,inicialmente com alguns anos de vida clinica e aperfeiçoamentos frequentes(up grades),após um curso de especialização numa instituição confiável,o profissional sai e soma todo conhecimento em prática e estudo frequente,o que obriga a conhecer as várias correntes que existem e são muitas vezes reais e de muita valia.Enfim o profissional não pode nunca parar o processo de conhecimento e prática.Diferentemente o que v. pode ver muitas vezes, teóricos professores de muito conhecimento técnico,mas são só professores irradiando ciência sem nenhuma atividade prática nem trabalhando como especialistas.
    Portanto,o que define um especialista em qualquer área,é aquele que conhece,faz e sempre está aberto aos novos adventos da ciência e linhas de novas pesquisas,e isso é contínuo,não tem fim!

  4. Acho que a plataforma Lattes é um excelente recurso de pesquisa nessas horas. Não precisa nem chegar ao dr. Rey: numa pauta “de medicina”, não adianta entrevistar um conceituado gastroenterologista se a pauta é o lobo parietal. Quando era trainee, descobri que o maior especialista em medição de inflação não entende necessariamente do papel das metas de inflação na política monetária. Pessoalmente, como leitor e como jornalista, tenho uma certa bronca dos especialistas tamanho-único, tipo sociólogo ou economista que comenta qualquer tema da sua área. Acho bem difícil o mesmo sujeito ter competência idêntica para comentar Ucrânia, Venezuela e África do Sul. O dia tem muito poucas horas para essa fonte ter lido o suficiente a respeito de tudo isso. Aí, se a pauta são as tripas, vou atrás do gastroenterologista e se a pauta é a cachola vou atrás do neurologista. O Lattes ajuda a identificar quem publicou algo a respeito, o que não garante qualidade, mas é pelo menos alguma pista de que o sujeito corre o risco de ser melhor informado do que eu sobre o tema que me interessa (e sobre o qual eu já fiz um mínimo de pesquisa antes, no mínimo pra ter o que perguntar).

  5. Um sábio (melhor…um guru) em educação, o Paulo Freire, já disse muito bem que conhecimento refinado é conhecimento complementado com experiência. De nada adianta famosos teóricos…agora, famosos teóricos enriquecidos com experiência, ninguém segura.

  6. Vou falar como leitor.Em primeiro lugar, quando o assunto é “tecnico”, quase sempre a materia é sofrivel, falta profundidade, quase nunca o jornalista compreende e portanto escreve muito mal sobre o assunto. Como avaliar quem seja um BOM especialista? A nao ser outro especialista, caso contrario, nao se sabe, pois qualquer que seja área,sempre tem alguem com maior conhecimento, mas nao necessariamente será mais didatico!

    1. Julio, eu não sou bióloga, mas tenho instrumentos para avaliar um bom biólogo. Alguém que está em uma instituição renomada, que publica artigos acadêmicos, por exemplo. Eu não preciso ser especialista em biologia para entender quem é um bom biólogo. abraços, Sabine

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