O que te move, doutor?
Por José Cavalvanti, trainee de ciência e saúde
Era uma tarde quente no Recife, quase causticante. Pela terceira vez, entrava numa livraria carregando a mesma pergunta: “vocês têm o ‘Médico e Repórter’, do Júlio Abramczyk”? O padrão de resposta manteve-se o mesmo: uma expressão de dúvida, dedos batendo no teclado e: “não… não temos”.
Na quarta tentativa, encontrei o livro. Um compilado de grandes contribuições do jornalista que entrou na medicina e transformou-se em uma das maiores referências do jornalismo científico no Brasil. A turma de trainees de Ciência e Saúde teve o prazer de conversar com o dr. Júlio durante a última semana de treinamento. Foram duas horas de contato direto com um dos profissionais mais inspiradores a que tive acesso.
Quando falei da dificuldade para achar seu livro, ele deixou claro: “não esgotou rápido porque é bom, mas porque imprimimos poucos”. Sempre de bom humor e postura aconselhadora, o médico e repórter pinçava histórias divertidas enquanto contava detalhes de seus grandes trabalhos na área. Por trás dos óculos, o jornalista mais antigo em atividade na Folha não deixava nada escapar, nem o chiclete sendo mascado por uma das trainees. “Nunca entrevista uma fonte mascando chiclete”, disse.
Sentíamo-nos tão motivados pela presença e histórias do Júlio que não resistimos em perguntar: “o que te move, doutor?”. Depois de um Prêmio Esso, mais de 50 anos dedicados à Folha de S.Paulo e duas horas conversando com seis jovens profissionais, ele respondeu, enquanto sorria: “continuar em atividade”. No início de nossas carreiras, não haveria resposta mais inspiradora que essa.
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