Traduzindo números
por José Cavalcanti, trainee de ciência e saúde
Para muitos que se encorajam a desbravar o universo do jornalismo, a ferramenta base para o desenvolvimento de qualquer trabalho talvez seja a palavra. Não há como discordar desse pensamento. É por meio do entrelace de letras, palavras e frases completas que reproduzimos nossas ideias, as ideias de outras pessoas e tornamos quase palpáveis as histórias com que temos contato no dia a dia da profissão.
Então, eis que surge um número. Um não, vários deles. Transbordam aos milhões e até bilhões de dentro de páginas de relatórios, documentos de bancos de dados e planilhas. É assustador. A princípio, não fazem sentido algum (e deveriam?). Um jornalista passa quatro anos na universidade para aprender a modelar palavras. Certo? Bom, não deveria ser somente isso.
Quando desconsideramos a gigantesca variedade de histórias, sentidos e informações valiosas que um punhado de números pode revelar, colocamos em xeque um aspecto fundamental do jornalismo: a tradução. Neste momento, não pense em línguas estrangeiras, mas em linguagens diferentes. Somos, nós jornalistas, tradutores do mundo que pulsa ao redor, e esse mundo não se resume a palavras apenas. São pessoas, emoções, conflitos e, por vezes, números. Mais uma vez.
Pude acordar de forma mais disposta para essa realidade durante o Programa de Treinamento em Ciência e Saúde, aqui da Folha. As benditas aulas de Excel 1 e 2 (sim, eram dois!) me abriram os olhos para esse novo universo. As planilhas e tabelas podem esconder grandes revelações por entre as grades. Saber organizar e cruzar os dados é fundamental para que nós, tradutores do mundo, possamos compreender e reproduzir o que querem nos dizer os tais números.
Principalmente depois que a Lei de Acesso à Informação foi sancionada, há dois anos. Podemos, desde então, solicitar dados aos órgãos públicos e ter acesso a eles. Só para mensurar a dimensão da coisa (e para adicionar alguns números ao meu texto), dos 97.029 pedidos feitos, 93.532 já foram respondidos. Incrível! Melhor ainda quando sabemos como debulhar essas informações. A partir daí, podemos, todos, transformarmo-nos em tradutores. Para os novos jornalistas, assim como eu, é mais do que fundamental dominarmos as ferramentas que permitem a tradução. Há muito tempo, a propósito. Isso auxiliará bastante nosso fazer jornalístico.
Parabéns, ótimo texto. Que possamos ter a capacidade de traduzir sempre os números sendo um fator gerenciador de novos conhecimentos. Que venham muitos números para que possamos desvendá-los!! 🙂