A curiosidade do jornalista e a história da Sabine
Por Ricardo Manini, trainee de ciência e saúde
No décimo dia de treinamento, a Sabine Righetti, que hoje é repórter de Cotidiano, mas trabalhou muito tempo com reportagens sobre ciência e saúde, veio conversar com a gente sobre a criação de pautas. Foi uma conversa e tanto.
Assim como a palestra com a Cláudia Collucci, a conversa com a Sabine nos ajudou a entender como se mover dentro do jornalismo científico e de saúde, área que é das mais complicadas e em que, sem um conhecimento prévio, a chance de cair em armadilhas é grande.
A Sabine contou como criou uma pauta muito interessante. Disse que, em 2010, foi cobrir um congresso no Guarujá, esperançosa de encontrar por lá boas pautas. Congressos, como ela explicou, são excelentes fontes de informação, porque muitas vezes novos estudos são apresentados e é possível se inteirar bem a respeito dos temas. Só que aquele congresso específico não trazia nada inédito.
Como os estudos apresentados não atraíam sua atenção, Sabine começou a reparar que um pesquisador alemão fazia diversas perguntas sobre equipamentos. Ela achou aquilo curioso – um alemão, naquele congresso, com questões muito específicas. Resolveu ir conversar com ele, para ver quais motivos o tinham levado até ali.
Sabine descobriu então uma grande pauta. O pesquisador era professor da Universidade Federal da Paraíba e estudava doenças genéticas relacionadas a casamentos entre pessoas consanguíneas. Ele tinha descoberto no interior paraibano uma comunidade na qual era comum as pessoas se casarem com seus primos. Havia por lá um surto dessas doenças e muitos moradores atribuíam os males à vontade divina.
Desse momento em diante, Sabine já tinha uma excelente pauta. Ela viajou para a Paraíba, conversou com outros pesquisadores, falou com os habitantes de algumas cidades e escreveu um belo texto, sobre um problema muito sério (leia aqui:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/833820-sertao-da-paraiba-tem-surto-de-doencas-geneticas-casamento-entre-primos-e-a-causa.shtml). E isso só aconteceu porque ela foi a um congresso que, pelas pesquisas apresentadas, não teria ajudado a desenvolver uma boa pauta.
A dica que a Sabine deu, ao contar essa história, é: “deixe sua curiosidade te levar até a pauta”. Se não fosse profissionalmente curiosa, ela não teria conversado com o pesquisador e não teria feito o texto.
Mais tarde, a nossa editora, Paula Leite, conversou com a gente e deu mais algumas dicas sobre pautas. Todas importantes. Essas conversas são fundamentais para nós, trainees, aprimorarmos nossas habilidades jornalísticas. Valem cada minuto.