Jornalismo x conflitos éticos

rbotelho

Por Dhiego Maia, trainee de ciência e saúde

 

A cobertura jornalística em Ciência e Saúde ainda é capenga no Brasil porque não joga luz como deveria nos conflitos éticos imersos na área. A constatação é da jornalista Cláudia Collucci, durante palestra que abriu os trabalhos da 1ª Turma do Curso de Treinamento em Ciência e Saúde da Folha.

Há anos, Collucci garimpa a falta de transparência em pesquisas, a relação escusa entre a indústria farmacêutica e os médicos e, principalmente, o dano causado ao cidadão comum. O conflito ético no campo científico se estabelece quando o médico e/ou pesquisador recebe verbas, ajuda financeira ou qualquer outra vantagem de algum grupo econômico e não divulga tal benefício.

O jornalista – para não se afundar nesse terreno movediço – tem o compromisso público de decifrar e expor a situação nas reportagens quando a fonte da entrevista possui algum conflito ético não declarado. Segundo Collucci, quando esta relação é divulgada, quem ganha é o leitor.

Mas, segundo ela, o jornalista também pode cair em conflito ético. Isso acontece quando o profissional viaja a convite de um grupo econômico para cobrir um congresso médico e não declara a informação. Na Folha, todas as viagens de jornalistas a convite são divulgadas na reportagem. Por ideologia própria, Collucci não aceita mais viagens patrocinadas. Cláudia diz seguir uma orientação da Associação Americana de Jornalistas em Saúde. De acordo com ela, os grandes jornais dos EUA não permitem que seus jornalistas aceitem viagens patrocinadas.

O conflito ético também se configura, segundo ela, quando a reportagem não mostra quem financia uma pesquisa.

No início de qualquer entrevista, Claúdia ensina a primeira pergunta a ser feita ao entrevistado. “O senhor tem algum conflito a declarar? Recebe verba, patrocínio de alguém?”

Collucci lista alguns erros recorrentes da cobertura jornalística na área científica como um todo no país. São eles: A supervalorização dos benefícios de um medicamento em detrimento dos riscos; falta de informação em relação a alternativas terapêuticas de menor custo; a real evidência científica de um estudo; falta de espaço na reportagem para opiniões contrárias aos resultados obtidos e se uma nova droga descoberta terá um custo acessível, dentre outros pontos.

A jornalista também argumenta que a busca pela transparência na divulgação dos feitos da ciência deve ser um exercício exaustivo e diário porque o assunto mexe com o interesse de todos. “A cobertura jornalística dessa área está no foco. Tudo o que a gente coloca no papel as pessoas acreditam”, finaliza.

Obrigado, Cláudia! Você colocou meus pés no chão.

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