No reino da dialética
Por Rafael Tatemoto, trainee da turma 55
Um dos aspectos mais impressionantes da cultura jornalística da Folha é a busca incessante e implacável pelo “outro lado”, ou seja, pelas diversas versões e opiniões que um mesmo fato pode suscitar. Trata-se de uma obsessão coletiva, incontrolável, com a qual a Editoria de Treinamento busca nos “contaminar”.
De tão importante, o “outro lado” ganha ares religiosos: tal como se estivéssemos falando de um oráculo, diversas vezes escutamos e repetimos “vai ter que escutar o outro lado.” Às vezes, nos referimos a ele como um ingrediente cuja ausência estragou uma receita: “faltou o outro lado nessa reportagem.”
Pessoalmente, chega a ser quase doloroso me relacionar com esse ente misterioso. Não raras vezes ele mente, te enrola ou atrasa. De onde surge essa vocação potencialmente masoquista, então? A busca pelas diversas visões sobre uma mesma coisa é, no fundo, apenas um mecanismo na tentativa de alcançarmos uma narrativa mais próxima daquilo que poderia ser chamado “verdade”.
Um “outro lado” pode derrubar uma matéria. Quase sempre torna nossa percepção mais apurada. Descobri, inclusive, que chegamos mais perto da verdade, que se fortalece, quando encaramos a mentira.