Mar de tabelas
Por Roberto Szatmari, trainee da turma 55
Vindo de fora do jornalismo, minha imagem da profissão era meio folclórica. Talvez um sujeito num saguão de hotel, com um mojito na mão e uma máquina de escrever no colo. Ou alguém de barba por fazer, fumando compulsivamente e gritando obscenidades ao telefone (essa talvez seja mais próxima da realidade).
Hoje, a imagem que fica é a minha própria, perdido entre dezenas de bancos de dados no Chrome e meia dúzia de planilhas.
Pelos meus cálculos nada científicos, já passamos pelo menos 33 horas –cerca de 30% do programa ou quase uma semana– manuseando ou discutindo o manuseio de dados e tabelas. Hoje sei, de cabeça, que Prainha, no Pará, tem o pior acesso à internet do Brasil e que o número de judeus negros no país quintuplicou desde 2000 (eram 1.690 em 2010).
Não poderia ser diferente. Produzimos números e dados mais rápido do que conseguimos entendê-los: censos, metadados, índices. Do alto de minhas seis semanas de experiência, suspeito que o trabalho do jornalista seja um pouco o de um intérprete dessa babel numérica, um rapsodo do Excel.
As tabelas rendem pautas e precisão, mas ainda é trabalho do jornalista sair ao mundo para achar a história. E, se possível, um mojito.