Entre os labirintos do Orçamento e do jornalismo

Paula Leite

Por Daniel Lomonaco, 23, trainee da turma 54

Entre no site Portal da Transparência e, na aba “Transferência de Recursos”, selecione a opção “Por Favorecido – Entidades sem fins lucrativos”. Escolha o ano da pesquisa. Aperte “Consultar”.

Pronto. Agora você já sabe quais instituições receberam recursos públicos, o valor recebido por cada uma delas e o que foi feito do dinheiro aplicado. Dentro do mesmo site é possível, ainda, consultar desde os valores gastos com passagens aéreas pelos agentes públicos até os nomes dos beneficiados pelo programa Bolsa Família.

Confesso que eu (um quase jornalista) não conhecia tais ferramentas e nem imaginava quão fácil poderia ser descobrir, por exemplo, os ministros que mais fazem uso dos cartões de crédito do governo. Palmas ao Gil e ao Carlos, ambos da ONG Contas Abertas, os quais nos ajudaram a seguir alguns passos pelo árido tema do Orçamento.

A primeira ideia que me veio à cabeça foi sentar-me em frente ao computador por dias a fio e fazer dez reportagens investigativas, descobrindo um escândalo maior que o outro, e, assim, encher páginas e mais páginas da Folha com minhas matérias.

Depois dessa passageira alucinação comecei a refletir melhor sobre como essas ferramentas podem (e, de fato, já estão) mudando aquilo que chamamos de jornalismo.

Lembrei-me logo de “Page One”(página um), documentário que revela os bastidores do “The New York Times”.

Uma das passagens cruciais do filme acontece quando jornalistas do “Times” avaliam o choque provocado na mídia tradicional pelo lançamento do Wikileaks.

A organização sem fins lucrativos postou em seu site documentos e informações confidenciais vazadas de governos. Com isso, a mídia tradicional estadunidense, o “New York Times” incluso, foi posta em xeque. Se as informações de bastidores foram descobertas por não-jornalistas, por que precisamos de jornalismo?

Será que a mídia brasileira pode sofrer o mesmo choque? O orçamento pode vir, afinal, a ser papo de boteco, com milhares de pessoas acessando os sites de informação e produzindo notícia?

E se assim fosse, não precisaríamos mais de jornalistas investigando fatos que já estão aí, quase tocando nossos narizes?

Confesso que com tanta divagação sobre jornalismo, às vezes me perco. Tomará que eu tenha mais sucesso nos caminhos tortuosos do Orçamento e consiga, enfim, produzir as dez reportagens investigativas para a Folha.

Comentários

  1. Prezadas Paula e Izabela,
    Antes de tudo parabéns pelo desafio do NEF.
    Sempre que puder trarei provocações.
    Bem-vindas a “selva dos leitores que opinam sobre a formação jornalística”.
    A Cris sempre permitia e trazia algum editor para explicar alguns pontos.
    Em uma questão sobre a cobertura da FSP sobre a PM, ela disse: “Acho que Cotidiano costuma abordar a instituição Polícia com a mesma crítica que aborda, por exemplo, a instituição Congresso Nacional”.
    Permita-me entender: é esse mesmo o enfoque editorial? As duas organizações do estado têm a mesma abordagem pela FSP? Um editor tem essa visão?
    Considero relevante para o processo de treinamento entender um pouco esse procedimento.
    Espero que vocês não “amarelem” com este questionamento.
    Ramiro

    1. Oi Ramiro, concordo com a Cris, o jornal sempre procura fazer o mesmo jornalismo crítico ao falar de todas os tipos de instituições. Obrigada, Paula

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