Cobrir e criticar artes plásticas

danielmedici
E se você precisasse explicar Pollock?

Você gostaria de trabalhar com cultura e quer ter uma ideia dos desafios que vai encontrar pela frente? Então imagine ser o setorista de artes plásticas de um jornal. Como você apuraria a “verdade” de uma obra? Como você checaria o que está “certo” e o que está “errado” em uma exposição?

Coloque-se agora no lugar do crítico de arte. O que você puxaria para o seu lide? Quais obras de uma mostra você destacaria em seu texto e quais ficariam de fora?

Escolhas mais ou menos intuitivas para a maioria das áreas de cobertura se transformam num verdadeiro problema nas páginas do caderno cultural. A própria existência da crítica, gênero tão peculiar da cobertura das manifestações artísticas, é uma evidência disso.

“O crítico deve aproximar a obra do leitor, ser um mediador, decodificá-la”, diz Fabio Cypriano, repórter e crítico de artes visuais da Folha. “Ao mesmo tempo, esse processo faz com que se atribua um valor a ela – e aí sempre entra a subjetividade, porque a crítica não é uma ciência.”

Quando falamos de artes plásticas em particular, em que boa parte das obras, ao contrário do cinema ou da literatura comerciais, se afasta de uma linguagem convencional, o problema da mediação é ainda mais visível: ela está na própria apuração da reportagem.

Ao mesmo tempo em que uma matéria sobre arte contemporânea deve ser inteligível para um leigo, ela também deve ser relevante para aqueles que fazem parte do meio. Se equilibrar entre quem está dentro do circuito e quem está fora é o principal desafio da cobertura, segundo Cypriano.

“É claro que o primeiro público é o leigo, por isso o texto tem que ser acessível, não cifrado. Mas é importante que também fale aos interessados, aos que estão dentro do circuito, e que faça o próprio artista refletir. O jornal é um veículo de comunicação de massa, ele tem de ser didático. Mas não podemos ser paternalistas: nossa obrigação é informar, não educar.”

Para o crítico, de nada adianta um texto claro se o leitor não estiver disposto a participar da proposta da arte. “É como num filme do David Lynch. Ele pode até dar pistas, mas é do espectador que tem que partir a vontade de procurar o significado.”

Se você quer se aproximar do mundo das artes, mas não sabe como, Cypriano, que começou a carreira muito longe dele, em política, tem dicas preciosas: “Em primeiro lugar, é preciso frequentar os lugares da arte. Arte é experiência. Existem livros que ajudam, como ‘A História da Arte’, do [Ernst] Gombrich, ou ‘Estilos, Escolas e Movimentos’, da Amy Dempsey, mas o contato direto, além de não ter preconceito, é essencial. Como jornalistas, temos a chance de ir às fontes primárias, de entrevistar os artistas e os curadores. Isso é um privilégio”.