Os limites do email

Paula Leite

O trainee Aurélio Araújo enfrentou uma situação que ilustra bem a dificuldade de fazer entrevistas por email – às vezes a gente acha que vai economizar tempo, mas a confusão resultante acaba nos fazendo precisar de um tempo mais longo do que se falássemos por telefone ou pessoalmente.

Entrevistas por e-mail são muito mais complicadas do que parecem. Podem gerar situações esquisitas e, no mínimo, engraçadas.

Outro dia, pedi por email a um rapaz que respondesse um questionário, que perguntava tanto dados objetivos (altura, peso, etc) quanto algumas curiosidades divertidas, como quem é seu ídolo, qual seu prato favorito, etc.

Em uma dessas perguntas divertidas, perguntei: ‘qual seu tipo de música favorito?’. Ao lado, ele deveria preencher um estilo de música. Até aí, tudo bem. O problema é que meu entrevistado me respondeu o nome de uma banda de rock!

Pensei então em duas alternativas: ou eu publicava dessa maneira mesmo, o que seria uma fuga do padrão das entrevistas que venho fazendo para o levantamento; ou colocava eu mesmo ‘rock’, deduzindo que essa seria a resposta dele.

Consultando o pessoal aqui do jornal, vi que não custava nada perguntar novamente e ter certeza que a resposta seria rock mesmo. Se não fosse, ele poderia alegar que eu coloquei palavras na boca dele. Portanto, mandei o seguinte e-mail para o entrevistado:

‘Olá, Fulano, tudo certo? (…) Bem, estava aqui pegando as informações sobre você e fiquei com dúvida em um ponto: na pergunta sobre tipo de música favorito, você respondeu o nome da banda. Posso então colocar seu estilo de música favorito como rock? Ou você prefere colocar um outro estilo?’

Para minha surpresa, dessa vez ele respondeu dizendo o nome da música favorita dele! A situação ficou ainda mais confusa e eu já estava ficando sem jeito. Para conseguir extrair a resposta, tive que ser o mais didático possível:

‘Oi, Fulano! Obrigado pela resposta! Mas então, se você tivesse que escolher um gênero musical preferido, seria rock? Ou algum outro (sertanejo, funk, samba, pagode, reggae, etc)?’

Pode-se dizer que eu induzi a resposta dele, mas era somente porque eu precisava de um dado muito específico, que ele não me deu de graça. Aprendi, com isso, que a gente precisa ter paciência e ser bastante específico no que quer saber do entrevistado. Por e-mail, a interação entre o jornalista e o entrevistado é bastante limitada.

Eu poderia ter ligado para ele e simplesmente resolvido o problema, não? Talvez. Confesso que, devido ao prazo grande que tinha para fechar a matéria, fui desleixado em continuar esse diálogo maluco por e-mail. Eu não percebi logo de cara que seria mais prático pegar o telefone. Quem sabe se o prazo fosse mais cruel…

(Para quem ficou curioso, a resposta dele foi rock mesmo!)

Comentários

  1. Aí depende. Os fãs do Deep Purple sabem que aquilo que os outros chamam de estilo (hard rock, heavy metal, grindcore, sei lá) pra eles costumava ser apenas “a terceira do lado B” ou “a segunda do lado A”. Eu responderia “Deep Purple” numa boa, e o repórter que se virasse pra arrumar uma gaveta apropriada. *risos*

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