O tal do texto jornalístico

Paula Leite

A trainee Lara Stahlberg, que não fez faculdade de jornalismo, fala sobre uma dificuldade que ela vem enfrentando e que não imaginava que teria: se adaptar ao texto jornalístico.

Quando tomei a decisão de mudar de carreira e me inscrever do Programa de Treinamento da Folha, pensei em inúmeras dificuldades que viriam no processo – como fazer uma apuração, propor uma pauta, onde caçar fontes etc. Sou formada em ciências sociais, terminei no ano passado meu mestrado em antropologia social e de jornalismo sabia apenas que era apaixonada por esportes e que era com isso que queria trabalhar (ou trabalhar em Mundo, ou em Mercado, entre tantas coisas que eu achava que seria super legal cobrir).

Essas dificuldades mais técnicas logo deixaram de me assustar (tanto) e vi que, com o treinamento, mais cedo ou mais tarde isso deixaria ser um bicho de sete cabeças. A única dificuldade que eu ingenuamente não esperava ter (ou não esperava que fosse ser tão grande) foi exatamente a minha maior: escrever.

Não é que eu achasse que era uma super escritora, mas era o que eu fazia há anos: tinha escrito monografia, dissertação de mestrado, artigo. Era isso que eu teoricamente sabia fazer e então não teria tanta dificuldade, certo? Errado!

Nunca tinha passado pela minha cabeça o quanto seria difícil adaptar a escrita acadêmica para o texto jornalístico. Espaço, por exemplo, nunca tinha sido uma questão. Lembro-me de ouvir meu orientador falando ‘escreve um texto pequeno, não mais que 15 páginas’. Páginas? Agora eu tenho que pensar em centímetros, num lide bacana, em escrever algo que seja sofisticado o suficiente para um ‘especialista’ e didático o suficiente para quem está lendo o assunto pela primeira vez, num texto fluido que vai direto ao ponto. É um tal de corta, corta, corta que eu de fato não conhecia…

Comecei a reparar na diferença que isso fazia na hora de escrever em dois momentos. O primeiro e mais evidente foi na minha leitura do jornal. Antes eu passava pelos cadernos muito mais interessada na notícia do que na forma ou em como o texto era desenvolvido, qual a linguagem utilizada. Agora a construção do texto é mais uma coisa com a qual eu tenho que me preocupar.

Já o segundo foi na primeira cobertura esportiva de que participei, no jogo entre Santos e Bolívar, pela Libertadores. Ver uma partida de futebol passou a ser um exercício de narrativa mental. Como eu explico aquela jogada, aquele gol para alguém que viu a partida, ou qual a informação a mais eu posso dar para quem de fato assistiu. Em tempos de espaço cada vez mais reduzido, o que naquilo tudo é notícia?

Fazer uma reflexão sobre o que de fato é o texto jornalístico para mim tem sido um exercício de tradução. Essa tradução começa desde a hora em que a matéria está na cabeça, antes e durante a apuração, e não na hora em que você senta na frente do computador. Estamos, de uma forma ou de outra, contando uma história e cabe a nós encontrar naquilo o que há de mais importante para o leitor. Isso sem pensar nas diferenças entre o texto do impresso e do online.

Muita gente me diz que com o tempo fica mais fácil, que é uma questão de prática até que eu encontre um estilo próprio. Talvez mais fácil não seja bem a palavra, talvez vá ficando mais natural. Na prática, leia. Leia, leia, escreva e reescreva muito que uma hora o texto sai.

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