Lições de uma pauta em Francisco Morato

Paula Leite

O trainee Bruno Benevides conta hoje como foi sua primeira experiência de repórter na rua, em pleno plantão de feriado. Ele aprendeu várias pequenas lições, nenhuma delas muito óbvia, mas todas importantes para o repórter iniciante.

Foi a primeira vez que pisei em uma redação como jornalista, não como turista. Eram 11h da manhã de um feriado. Tive o gosto de ficar por lá por exatos 15 minutos. Foi o tempo do pauteiro me ver e perguntar: ‘você conhece Francisco Morato?’. Após minha negativa, ele sentenciou ‘então vai conhecer’. Peguei um carro e um gravador emprestado e fui para lá. Primeira lição do dia: sempre tenha um gravador no bolso; assim, você não precisa importunar o colega atrás de um.

As recomendações foram simples: ir até um cemitério da cidade. Procurar personagens, o local deveria estar cheio. Falar com a direção. Um fotógrafo também estava a caminho.

Chegar em Francisco Morato foi fácil. O problema foi achar o cemitério. Eu e o motorista perguntávamos onde ficava, um morador respondia para um lado. No meio do caminho outra pessoa apontava a direção contraria. E ficamos rodando pela cidade até achar o cemitério. Duas horas depois de sair, chegamos.

Aprendi a segunda lição do dia: nunca confie em moradores para apontar a direção. Viva os mapas, o GPS e o Google Maps.

Logo descobri que o outro carro, com o fotógrafo, se perdeu ainda mais. Ele não teria tempo de ficar por lá para me ajudar. Passou rápido, tirou algumas fotos e foi embora para outra pauta.

Aliás, não foi só o fotógrafo que foi embora. O cemitério estava vazio. Fora os mortos e os funcionários, não havia ninguém. Pensei em ligar para a redação e avisar que a pauta dançou. Mas resolvi, antes, subir o cemitério, quem sabe encontrava algo.

Andei pelo meio do mato, e na lama. O lugar estava cheia de moscas e mosquitos. Já estava pingando de suor. Aparentemente Francisco Morato foi o único lugar de São Paulo em que fez calor naquele dia.

A caminhada deu certo, apareceram alguns personagens. Até um enterro começou. Tentei conversar com os familiares do morto. Falei com eles, mas não consegui nada. Não me senti bem.

Procurei a direção, ela falou sem problemas. Falei com a redação e retornei para São Paulo. Tinham se passado cinco horas. Eu e o motorista estávamos mortos de fome e paramos em uma lanchonete no caminho. Não tinha dinheiro e o lugar não aceitava cartão. Tive que pegar R$5 emprestado. Última lição do dia: sempre leve uns trocados em dinheiro quando sair para uma reportagem.  

A matéria saiu dois dias depois. Agora quero mais, ainda tem diversas regiões de São Paulo que não conheço.

Comentários

    1. Então, nesse caso, o melhor mesmo era sair da Redação só após descobrir o endereço, seja pelo Google, seja ligando na prefeitura, se já não estiver no site do município, por ser um local público.

  1. A Folha tbm poderia aprender uma licao com o reporter iniciante: equipar os carros q levam seus profissionais para as pautas com GPS. Nao eh luxo. Eh necessidade.

    1. É um bom conselho. Teoricamente todos os carros do jornal têm GPS, mas o trainee saberá dizer porque desta vez não tinha ou não foi usado.

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