Frase que gruda na cabeça
Toda vez que vamos à caça de personagens para ilustrar tudo o que foi apurado na matéria o que mais desejamos são aspas perfeitas.
Sabe aquele sujeito que consegue resumir em uma frase curta tudo o que você passou dias apurando?
Quando eu estava na faculdade, achava que toda matéria tinha que ter loooongas aspas do entrevistado e era capaz de escrever parágrafos inteiros só com o que o sujeito falou.
Isso, aliás, é bem comum em revistas. Mas em jornais diários, é muito raro.
Aprendi isso ao longo do tempo, desde o trainee da Folha. E hoje pinço de forma muito seletiva o que uma pessoa falou, tentando pegar, é claro, o que for mais interessante, claro ou o que resumir melhor toda a conversa.
E essa escolha não é aleatória.
É fato: existem frases melhores que outras.
E existem pessoas que jorram aspas maravilhosas seguidamente, difíceis até de pinçar (geralmente são as pessoas ideais para virar um ping). E outras que falam coisas mais óbvias, que já serão cobertas pelo restante do texto. Dispensáveis, portanto.
Tentei lembrar agora de uma frase que tenha me marcado nas matérias que fiz.
Imediatamente me veio à memória uma matéria que fiz em agosto de 2010 (!!!).
Era sobre o pessoal que se recusava a sair do Jardim Pantanal, mesmo quando já convivia com água até o joelho, da enchente, há mais de um mês.
A prefeitura oferecia um bolsa-aluguel de R$ 300 para que eles saíssem de casas construídas há 17, 20, 30 anos no lugar.
E me disse a dona Dagmar: “Meu preço é maior”.
Essa frase pequena foi capaz de resumir todo o imbróglio para pessoas que não entendem como alguém “se submete” a cheias que colocam em risco a vida de toda a família.
A frase era tão boa que foi o título da matéria.
***
O pessoal da universidade de Cornell resolveu pesquisar por que algumas frases são melhores que outras.
Para isso, escolheu frases de filmes e perguntou às pessoas que não tinham visto aqueles filmes quais delas pareciam mais marcantes (algo como “Houston, we have a problem” ;)).
E, mesmo sem ter visto o filme e estando diante de duas frases potencialmente boas, a maioria das pessoas consegue distinguir, em 9 de 12 filmes, qual foi a frase que colou.
Achei muito legal. Quem quiser entender mais sobre a pesquisa, clique AQUI. E, para fazer o teste, AQUI.
ps: A editora que me referi acima não é mais a MINHA editora. Há uns 4 meses sai do jornal diário e enterei numa assessoria. Está demais também, pois não tinha nenhuma experiência na área. Mas sinto falta de ter alguém preocupado com os detalhes daquilo que faço. Acredito que o diferencial está ai. Ela me ensinou que tenho que fazer algo que ninguém faz. Se for para ser igual não precisa. O mercado necessita de profissonais que conseguem ir além daquilo que é mostrado a ele. Att.
Me pergunto várias vezes sobre colocar frases das fontes ou personagens para reafirmar aquilo que a apuração já disse. Certo ou errado? É complicado quando esses personages dizem aquilo que a gente já sabe. Mas não podemos fugir muito das perguntas óbvias, mas é claro que depois de 3 ou 4 já é hora de refinar as informações para torna-las mais precisa. É necessário muita sensibilidade para saber quais são mesmo as melhores frases. Tenho dificuldade nisso. Acho que isso se deve um pouco a minha editora dizer: escreva tudo que é preciso, todas as informações, não importa quantas laudas de word deem, coloque informações. Depois ela me convida para participar da edição. Ai sim consigo perceber e penerar algumas coisas, mas só com o auxilio dela. Tenho muito o que aprender. rs abraço 😀
Eu acho que se já está no texto, não faz sentido a fonte repetir. Não acho nada mais horrível do que ler uma matéria dizendo algo num parágrafo e a fonte repetindo logo abaixo a mesma coisa. O espaço é tão curto e o tempo do leitor tb! Acho que aprendemos a peneirar as melhores frases com a experiência diária mesmo. bjos