Coisas que aprendi com a marcha contra a corrupção

Paula Leite

O relato abaixo é do trainee Pedro Ivo Tomé, sobre uma matéria que ele não planejava fazer: se viu “no meio da notícia” e aproveitou para apurar e aprender. Como diria um antigo professor meu de jornalismo, ele não desviou da notícia.

Voltando da Folha, escutei, ao fazer a baldeação no metrô Consolação, palavras de ordem e muito barulho vindos da avenida Paulista. Era a marcha contra a corrupção, do dia 21/04. Ir para casa ou ficar? Lembrei-me de um dos mantras do livro da Ana Estela, ‘Jornalismo Diário’: jornalista tem que se interessar por tudo. Sempre. Decidi subir as escadas e testar.

Por sorte, estava com a câmera de filmar e o gravador, ambos emprestados pelo jornal para fazermos nossos exercícios. Fui acompanhando a marcha e, depois de superar a timidez inicial, gravei entrevistas com alguns dos organizadores do evento.

Gravar, anotar as principais aspas, prestar atenção no que está sendo dito, pensar na próxima pergunta no meio da manifestação e andar com a barulheira, tudo isso ao mesmo tempo, me fez perceber como é difícil ter munição para elaborar boas perguntas quando não se planeja cobrir um evento do tipo, como era meu caso.

Para coroar o absolutismo do meu despreparo de foca, comecei a fazer um vídeo dos primeiros acirramentos entre os manifestantes e a polícia. Aprendi que manter o controle ao gravar em uma situação de conflito é fundamental, por uma simples razão: eu estava no meio dos manifestantes quando escutei os tiros de borracha e acabei soltando os palavrões mais cabeludos da última flor do Lácio. Resultado: perdi um bom vídeo por causa das besteiras.

Lições aprendidas: a) ande sempre com o bom e velho “power trio” na mochila – câmera, gravador e bloquinho – ou compre um smartphone, se seu orçamento permitir; b) planejamento para fazer boas perguntas é fundamental; c) em situações de conflito, principalmente ao gravar, seja como o bife do ‘bandejão’ da USP: frio, duro e com nervos de aço (e mudo!).