Olhando para os lados

Paula Leite

O trainee Aurélio Araújo escreveu sobre algo que aprendeu com uma repórter experiente da Folha, a Laura Capriglione: a importância de olhar para os lados, procurando histórias inusitadas. O relato dele:

Todas as sextas-feiras, estamos tendo aulas na Escola de Comunicação e Artes da USP com Melchiades Filho, diretor da sucursal de Brasília da Folha. A matéria é oferecida para os alunos da USP e também é aberta a nós, trainees do jornal. Nas aulas, o Melchiades traz sempre um jornalista da Folha para discutir um determinado tema com os alunos. Até agora, já nos encontramos com Laura Capriglione, Mônica Bergamo e Rubens Valente.

A aula com a Laura, sobre estar atrás de boas histórias e furos, foi a que mais me chamou a atenção até o momento. Até porque, com todo respeito aos outros, a Laura é uma repórter na melhor acepção da palavra: sabe encontrar histórias e personagens como ninguém. Pois bem. O que mais me impressionou, entre as coisas que ela disse, foi o lema: ‘sempre olhar para o lado’. Se um repórter segue a agenda do seu jornal e se limita a fazer isso, por exemplo, ele pode perder histórias incríveis que estão acontecendo no mesmo lugar onde ele está – mas que ele não vê porque está concentrado somente na sua pauta.

Para mim, ter um olhar de jornalista é a maior dificuldade. Eu venho de fora do jornalismo (sou formado em midialogia pela Unicamp – antes que você pergunte, é um curso sobre estudo de mídias, como fotografia, cinema, televisão, etc.). É claro que tenho curiosidade e procuro manter um olhar atento para tudo que acontece ao meu redor. É claro também que identifico algumas coisas incomuns que muitas pessoas passam sem notar. Mas treinar esse olhar, discipliná-lo para o que realmente importa, esse é um grande desafio. Além disso, é preciso ter a ousadia de ir além: trabalhar mais do que o necessário, falar com mais pessoas, levantar muito mais informações do que as que se vai efetivamente usar para redigir uma matéria.

A Laura contou uma história de uma vez que o prefeito Gilberto Kassab ia dar uma entrevista próxima a um lago que estava com o nível de água muito baixo. Enquanto ele dava a entrevista coletiva (essa era a pauta oficial dela), muita gente ao lado estava tentando salvar um cisne que parecia estar atolado em areia movediça, na parte mais seca do lago. Segundo ela, mesmo com a importância da entrevista do prefeito, ali ao lado se tinha uma história muito mais sensacional: paulistanos, que pouco se importam uns com os outros, fazendo de tudo para salvar um animal. E era um animal que nem precisava ser salvo: depois de um tempo sem que ninguém conseguisse chegar até o cisne, ele saiu voando. No calor do momento, as pessoas esqueceram que cisnes voam.

Eu faço pós-graduação em roteiro de cinema e televisão. Para mim, ser repórter é encontrar essas histórias maravilhosas que acontecem todos os dias, mas para que sejam vistas e contadas, registradas pela Folha, são necessárias atenção e disposição redobradas. A própria Laura ensinou uma técnica que é a de fotografar o cenário diversas vezes, de diversos ângulos, para que depois, com frieza, se analise com mais calma tudo que rolou no local. Pode parecer estranho, mas a ansiedade para enxergar tudo de uma vez só pode cegar. Foi com suas fotografias, por exemplo, que a Laura percebeu que, naquela cena do cisne no lago, apareceu até gente vestida de escafandrista para resgatar o bicho!

É claro que esse tipo de coisa se aprende com a experiência. Mas, como ninguém nasce sabendo e ninguém é um gênio no começo da carreira (há poucas exceções, que só confirmam a regra), é bom ter a oportunidade de ouvir gente como a Laura e de poder debater com ela.

Comentários

  1. Sem dúvida q as regras ditada pela experiente Laura Capriglione são reais, mas meu caro Aurélio ñ é de se olhos é q vive um jornalista. Mas sim de “faro” p q é preciso ver sentir e cheirar o outro lado do fato. É preciso saber a quem atinge certas realidades. Quem lucra e quem fica prejudicado diante de certos fatos. Exemplo a corrupção. Um deputado q se vale de sua influência para ñ ser preso por um crime comprovado e um motorista q paga uma cerveja pro guarda pra ñ ser multado. Ambos são corruptos.
    A mídia só vai mostrar o deputado e a razão é q a sociedade nem se lembra do fato menor porque o brasileiro convive tão bem com isso!
    Um jornalista tem q estar a par de todos os fatos, saber apurá-los e saber como denunciar sem medo ou pudor e sem “barriga”.

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