Jornalismo e órgãos públicos
O post de hoje é sobre a experiência do Fernando Moraes, que também veio de fora do jornalismo e que conta a sua primeira experiência de ir para a rua e apurar uma reportagem desde o começo. O relato dele:
“Sou um dos trainees dessa turma que veio de fora do jornalismo. No meu caso, bem de fora. Então achar uma pauta e fazer a primeira matéria foi bastante desafiador. Eu e outro trainee, Pedro Tomé, fomos tentar fazer uma matéria no Complexo Prates, centro para tratamento de usuários de drogas na região central de São Paulo que estava completando um mês de existência. Nossa ideia era ir lá para fazer um balanço desse primeiro mês.
Quando lá chegamos, a recepção não foi das mais acolhedoras: fomos conversar com o chefe de um dos setores do Complexo e dissemos que éramos da Folha. Ele nos disse que não poderia passar nenhuma informação, que deveríamos ligar para a prefeitura. Além disso, os seguranças do lugar nos abordaram depois dizendo que não poderíamos ter entrado sem termos ‘sido anunciados’. Depois descobrimos que a informação não tinha fundamento.
Voltamos ao Complexo no dia seguinte, devidamente anunciados, para encontrar uma assessora de imprensa. Antes de encontrá-la, conseguimos conversar com alguns internos. Ouvimos algumas denúncias sérias, que enriqueceriam bastante a reportagem, mas cometemos alguns erros na hora de apurá-las com a assessoria de imprensa da prefeitura e não pudemos usá-las.
Mesmo assim, no fim, a matéria que escrevemos conseguiu mostrar que, após um mês, o Complexo tem problemas no seu centro de convivência para os internos e está subocupado, contrariando dados e informações passados pela prefeitura.
Não há dúvida que aprendemos muito com esse exercício. No mínimo, eu diria, como abordar autoridades na hora de apurar informações delicadas e comprometedoras em orgãos públicos.“
Paula, este caso me fez lembrar de um artigo escrito por Carl Bernstein sobre “Watergate”, em 1992, no The Washington Post.
Caso interesse, é este daqui: https://docs.google.com/viewer?url=http://www.carlbernstein.com/magazines_the_idiot_culture.pdf&pli=1
EU nao sei como funciona no Complexo Prates, mas te digo uma coisa de quem está do outro lado da moeda. Lidar com dependente químico é perigoso e delicado. Você expor um dependente que está ameaçado de morte num jornal, sem nem desconfiar que está fazendo isso, é o prelúdio pra um desastre. Alguns a jornalistas tem a sensibilidade de entender o q você explica, por que não pode fotografar alguns lugares ou entrevistar algumas pessoas, mas outros acham que é birra ou que você quer esconder algo. Você esta lidando com uma vida humana num estado de fragilidade máxima e todo o cuidado que se tem é pouco.