Aumentaram acidentes com jet ski ou nosso olho pra eles cresceu?

Cristina Moreno de Castro

É mais ou menos isso o que a leitora Joana Rizério pergunta, no email-brainstorm que nos mandou há algum tempo.

Na época, tinha acabado de acontecer o acidente com o jet ski em Bertioga, que acabou levando à morte de uma garotinha de 3 anos.

E vejam que boas reflexões Joana levanta:

“A gente aprende na faculdade, entre um monte de coisas que provavelmente não conseguiremos executar, como evitar a repetição trágica da Escola Base e a história de não se noticiar suicídios, com exceções guardadas, já que pesquisas estranhas apontam para um aumento dos índices quando uma informação deste tipo se espalha.

Lembro de ter notado a aparição de um sem número de histórias de bebês abandonados em sacolas plásticas nas Pampulhas desse Brasilzão depois do alarde e terror do primeiro crime. Eu invariavelmente me pego vidrada, sedenta, sanguinolenta atrás de qualquer novidade acerca de um caso que me chocou de alguma maneira. Morro de vergonha, mas acho que é bem comum.

Acabei de ver ISSO na Folha.

Será que é como quando a gente aprende uma palavra nova, nunca usada nem vista, e de repente o mundo inteiro parece incluí-la no vocabulário do cotidiano?

Ou o jornal “cresce o olho” pra essas notícias relacionadas, atrás de ibope?

Isso ajuda em alguma coisa ou só atrapalha tudo? Será que, realmente, falar demais sobre um assunto torpe faz com que a bestialidade cresça entre a humanidade?”

São boas questões! O que vocês acham?

Comentários

  1. A meu ver, depois do acidente de Bertioga, casos semelhantes viraram pauta. Aqui em Brasília, no dia seguinte a isso, um grande jornal local estampou uma reportagem alardeando seus “flagrantes” no Lago Paranoá. Gente (inclusive menores) andando de jet ski pra lá e pra cá, fiscalização zero, etc. Isso SEMPRE existiu no Lago, mas só foi pautado depois do acidente de Bertioga (e já foi esquecido novamente). Já tivemos dois graves acidentes aqui, o último foi o naufrágio de um barco de festa em maio do ano passado, nove pessoas morreram, a maior tragédia do Lago Paranoá. Será que alguma coisa mudou de lá pra cá?

    Outro exemplo dessa “comoção jornalística”: o desabamento dos prédios no Rio, perto do Theatro Municipal. Meses antes, houve aquela explosão assustadora por causa de vazamento de gás. Quando ocorreu o desabamento dos três prédios no centro, qual foi a primeira hipótese levantada pelos repórteres? Vazamento de gás. Era a primeira pergunta feita a quem estava no local. Cheguei a ouvir alguns noticiando que “algumas pessoas sentiram cheiro de gás”. Depois, veio a informação da reforma em um andar de um dos edifícios, e essa tornou-se a grande suspeita – adeus, vazamento de gás.
    Meses mais tarde, o desabamento de um prédio em São Paulo. Primeira pergunta? “O edifício estava passando por obras??”. E lá vem mais especulação. Pior são os reflexos dessa cobertura desnorteada. Nos Creas, depois dos desabamentos noticiados, as denúncias e os pedidos de fiscalização se multiplicaram absurdamente.
    Entendo que a reportagem, muitas vezes, é movida por esse tipo de gancho, mas o repórter precisa “agendar” essas pautas. Seis meses depois, um ano depois, o que mudou? Não dá pra colar um post-it no monitor, tem que colocar em uma agenda mesmo. Eu, por exemplo, tenho uma agenda no Google só para anotar essas pautas futuras. Configurei para receber alertas no meu email com três, dois e um mês de antecedência. Assim, mesmo que eu não abra a agenda, serei lembrada.
    O factual nos move, mas não podemos largar a análise apenas para os grandes fatos né.

    1. Sim, essas matérias de “como ficou” são muito importantes. Às vezes simplesmente esquecemos de acompanhar um caso. Eu tb uso o Google Agendas para me ajudar a não esquecer…

  2. Eu acho que o jornalista acorda para uma realidade, de repente, a partir de um fato. Acho engraçado quando, muitas vezes, há pautas e personagens comuns e rotineiros que, de alguma forma, ficam sob os holofotes midiáticos. A impressão que eu tenho é que, geralmente, não há coisas novas, mas apenas distanciamento entre a realidade dos jornalistas e muitas e quaisquer outras. Em um dos meus empregos, trabalho em uma favela, subo o morro frequentemente, conheço inúmeros personagens que os compõem e vejo como algumas matérias são feitas com elementos extremamente comuns para aquela realidade. Tornam-se extraordinários, de alguma forma, pelo distanciamento mesmo. Sobre divulgar atos brutais, não acho que devemos falar sobre fazê-lo, mas como. Na época da Suzane Richthofen, muitos adolescentes e jovens revoltadinhos a viram como um ícone. Mas, na minha opinião, a mídia a vendeu assim, de alguma maneira. É a espetacularização da coisa que a faz ser brilhante e buscada, mesmo que não seja boa. Infelizmente.

      1. Sério, Cris? No orkut, até hoje, tem comunidades criadas em homenagem à ela. “Eu amo Suzane Richthofen”, “Eu entendo Suzane Richthofen” e “Suzane Richthofen é ídolo” são alguns exemplos. Em aulas que tive na faculdade, retomaram essa discussão sobre a moça, os fãs malucos dela e a influência da mídia.

  3. Acho que a gente passa a prestar mais atenção depois que vê um caso escabroso. Depois do sequestro da Eloá começou a aparecer um monte de outros descornados e perigosos. Quase certeza: já existiam antes, mas de repente a polícia não lembrava de informar na ronda, porque era briga de namorados, coisa assim. Ou não chamava muito a atenção de quem ligava. Passou uns meses, sumiram os casos. Será que deixaram de acontecer?

    1. claro que sempre houve casos de todo o tipo, só não chegavam a chamar tanto a atenção. mas será que noticiar tanto não incentiva o crime?

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