Profissão da imprevisibilidade

Cristina Moreno de Castro
A foto que tirei com o celular, improvisadamente, até o repórter-fotográfico APU GOMES chegar.

Acho que uma das características que um repórter tem que ter — principalmente o que cobre cidades — é gostar de imprevisibilidade. Ela ocorre a todo momento e pega de calças curtas não só o repórter, mas os redatores, editores, todo mundo.

No plantão deste domingo, por exemplo, saí de casa às 15h com uma pré-pauta que, segundo nossa aposta, poderia ser a capa de Cotidiano de segunda.

Ao longo da tarde, fui passando os retornos para o GUTO GONÇALVES, que chefiava o plantão de Cotidiano, e a pauta foi perdendo importância. De capa, passou a ser um abre, depois uma sub e, por fim, ele resolveu derrubar totalmente a matéria, porque não se sustentava mais em pé.

(A capa acabou sendo um levantamento bacana feito pela sucursal de Brasília.)

Chegando na Redação, por volta das 19h, recebemos a informação que um galho de uma figueira tombada tinha caído em um tradicional restaurante da cidade. Pauta bem de cidades mesmo, principalmente pelo inusitado que tem na história da figueira. E lá fui eu para a rua de novo, cobrir o que acabou virando um abre.

Nesse meio-tempo, outro acidente com jet-ski ocupou meu colega ROGÉRIO PAGNAN e entrevistas no “Fantástico” tiveram que ser acrescentadas no texto sobre o caso de Bertioga.

Enfim, pra resumir: o plantão começou de um jeito, com um espelho todo imaginado e traçado, e acabou com um jornal completamente diferente, fruto do imprevisível.

Hoje também saí para uma pauta e, no meio do caminho, vi um acidente impressionante, um ônibus dobrado sobre um carro.

Eu estava com pressa, porque tinha que ir a vários endereços distantes para cumprir aquela pauta anterior, mas resolvi parar para ver melhor do que se tratava. Fiz uma foto do ônibus, passei o que sabia para a Folha.com e consultei a editora para ver se não era melhor continuar ali mesmo e deixar a outra pauta pra depois. Ela concordou.

Se a gente tivesse feito outro roteiro, ou se não tivéssemos percebido a gravidade do acidente (no plural assim porque o ótimo Raimundo, motorista do jornal, estava comigo), provavelmente eu teria seguido com a pauta originalmente pensada.

Mas o imprevisível está sempre ao nosso lado e a gente há que se acostumar 🙂

Comentários

  1. Adoro isso no jornalismo! Sem preguiça mental, temos mesmo é que desviar do caminho quando necessário. Baita foto por sinal

    1. Nada… A foto foi só um quebra-galho no celular até o repórter-fotográfico chegar 😀

  2. … e há que se acostumar também com prestar atenção ao que diz o motorista, Cris. Eu me lembrei de um motorista que tínhamos na sucursal do JB em Minas, nos velhos tempos: o Zé Evangelista. Eu fazia a pauta, e nunca tive um auxiliar tão valioso quanto ele, que andava pelas ruas e me relatava o que via. E que ficava com o rádio do carro sempre ligado às notícias. Se não tivesse apenas o quarto ano de grupo escolar, teria sido contratado como repórter (e talvez tivesse sido, não fosse, na época, a obrigatoriedade do diploma do curso de jornalismo; um diploma – e nenhum outro de faculdade – que nosso mestre Alberto Dines, que completou agora 80 anos de vida e 60 de jornalismo, jamais teve).

    1. Também tem alguns desses motoristas que são auxiliares valiosos na Folha e que dariam ótimos repórteres 🙂

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