Sobre o jornalismo-piada

Cristina Moreno de Castro

A leitora Mônica andou lendo sobre a discussão entre o jogador Barcos e um repórter de TV (clique na foto para ver o momento da discórdia) e teceu as seguintes reflexões:

“Na coletiva do Palmeiras, um repórter mostrou uma foto do cantor Zé Ramalho e perguntou ao centroavante argentino o que ele achava da semelhança entre ambos. A resposta, tirando as partes grosseiras, foi como uma aulinha de vida ao jornalismo brasileiro (Roinc!), e mostrou que coletiva não é circo e que reportagem esportiva não necessita de palhaços.

Fabio Seixas (adoro ele), colunista da Folha, escreveu em seu twitter que o jornalismo esportivo no país se tornou metido a engraçadinho e que, embora ele não tenha nada contra o humor, o problema está na ditadura da pauta engraçadinha.

Depois de aplaudirem mentalmente o colega de vocês, acompanhem minha dúvida, por gentileza: quando há exagero por parte do jornalista ao fazer esse tipo de piada? No caso do jornalismo esportivo, por exemplo: deve ser tratado como qualquer outra área ou há espaço para o humor? Eu sei que tudo pode ter humor, mas é difícil imaginar um jornalista cobrindo a coletiva de Hillary Clinton com uma foto da Eva Wilma na mão, perguntando a ela sobre a semelhança das duas.

Barcos não gostou, mas poderia ter achado engraçado, e a ditadura da reportagem-piada, somado mais um ponto. Mas qual é o ponto? Onde entra o equilíbrio e a seriedade aí, mesmo em situações aparentemente descontraídas, como em coletivas de jogadores?”

O que vocês acham?

Comentários

  1. querida Ana,
    como vc sabe, faço as piadinhas diárias na seção Numerada, em Esporte, que inclui piadas com a Portuguesa, quando necessárias. Só queria dar um pitaco rápido sobre a onda de humor no jornalismo, principalmente, no esportivo.
    Não acho que o jornalista deva “interromper” a coletiva para causar constrangimento ao jogador. Acho que tem hora e lugar para tudo. O “lugar” na Folha, por exemplo, é a seção que cuido. O problema é que nem todo veículo tem um “lugar”. Não acho que o repórter que cobre o Palmeiras deve fazer piada com o Barcos. E é esse o problema. No Globo Esporte, o que é jornalismo e o que é humor foram fundidos (eu disse, fundidos) numa coisa só. Não tem nenhuma preocupação onde termina um e começa o outro. E (até eu) acho que tem que ter uma delimitação. Na minha página, acerto uns dias, erro outros. Mas ali eu não vejo problemas. Se o sujeito-leitor não consegue ouvir uma piadinha sobre o time dele, deveria tomar cuidado para frequentar táxis, elevadores e padarias. Enfim, é difícil encontrar o equilíbrio, mas é preciso sempre buscá-lo. Em tempo, meu melhor apelido para a Portuguesa não é Barcelooser. Prefiro o PortuNada, uma homenagem ao espanhol Granada, que ocupa posição semelhante a da Lusa no Espanhol!

    1. Ah, sim, e vc foi me responder bem hoje, né!? Só porque perdemos de 2 a 0 daquele time medroso que não nos deixou escalar os jogadores que ele mesmo desprezou… =/
      Beijo! Ana

  2. Ana.
    Interessante a discussão proposta, porém não é gastar muito ‘dedo’ com pouca coisa? A vida mostra que quando brincamos com alguém, existem duas possibilidades, ou obtemos risadas ou ‘levamos nas costas’, parece-me que o reporter leiferteano global colheu o segundo resultado. Quanto a mistura entre humor e jornalismo, para que funcione, na minha opinião, são necessários mais dois pequenos ingredientes: inteligência e bom senso. Como, infelizmente, essas coisas estão meio escassas na mídia esportiva, temos episódios desagradáveis como este. Sou palmeirense e dos fanáticos, e sentimos que a imprensa de modo geral e a Globo em particular, tem como objetivo claro, permitir que apenas três times tenham destaque: Flamengo, 30 milhões de torcedores; Corinthians, ‘time do povo’ e o São Paulo, time da elite.
    Saudações esmeraldinas e parabéns pelo espaço.

    1. Não concordo sobre os destaques dos times, nem sobre a inteligência escassa no jornalismo esportivo. Talvez seja para quem ache que só existe uma emissora capaz de fazer jornalismo esportivo. Se buscar, verá que há interesse por outros times, embora não se possa negar nem ignorar 60 milhões de torcedores, se juntarmos as duas maiores torcidas do país.
      E não preciso nem comentar sobre a mídia escrita, pois estamos cheios de inteligência esportiva no meio. Quem opta é o leitor: prefere ler um narrador que tem um blog ou um jornalista esportivo no ramo há mais de 30 anos, que consegue fazer humor até com seu próprio time (o Juca, como foi citado, mas muitos outros também, como Xico Sá, Birner, etc)?
      São questões de escolha própria.

      Concordo no estilo “leiferteano”. O estilo dos repórteres da emissora mudou muito, o que é triste, pois há uma vasta qualidade e inteligência desperdiçados, muitas vezes por imaturidade do superior.

      Abraços. Julio

      1. Julio.
        Grato pela atenção.
        Lendo sua resposta, concluo que você concorda com a falta de bom senso que permeia boa parte da mídia esportiva.
        Em relação ao tempo na atividade, gostaria de lembrar que os ‘Miltons Neves’, ‘Galvões Buenos’, ‘Osmares de Oliveira’ da vida, não podem ser chamados de focas e isso não os impedem de proferir as mais bizarras besteiras que nossos ouvidos recebem.
        Já sobre a qualidade de Juca Kfouri, Vitor Birner, PVC e outros tantos incensados, sinceramente prefiro as opiniões do Tostão, Zaidan, Mauro Betting e outros tantos que não se contaminam com a própria vaidade ou com interesses menores, sejam financeiros ou até políticos.
        A falta de inteligência fica clara quando ouvimos ‘jornalistas’ como Neto, o rei das besteiras; Casagrande, Caio que ocupam os principais postos nas redes abertas e ao mesmo tempo, sofremos o ataque dos ‘experts’ das televisões a cabo, que em muitas ocasiões nem sabem sobre aquilo que estão transmitindo.
        Respeitosamente.

        1. É lindo ver uma troca de opiniões e argumentos com tanto cavalheirismo e fair play!!!!! Vocês são ótimos! Ana

  3. Constatação interessante: notícias sobre ESPORTES (futebol) geram mais comentários…

    (como descoberto no post sobre comentários pelo Prof Ramiro)
    Será que o jornalismo esportivo com humor é gerar polêmica e audiência? Juarez

  4. Um comentário melhor que o outro. Dá pra juntar tudo e fazer um só? =)

    Outro ponto importante, também, é a naturalidade ao fazer a piada, não? Levar uma foto na coletiva já é forçar um humor que pode ou não dar certo. E não deu com o Barcos.

    A programação da ESPN consegue fazer humor de forma muuuuito natural. Juca Kfouri faz humor, também, até mesmo com o Corinthians, time para o qual torce – um dos tradicionais de SP!!!! (risos)

    Acho que o problema do humor no jornalismo é que você pode não perder a piada, mas perde o foco da notícia.

  5. Creio que o jornalismo esportivo deva mesmo ser descontraído. Mas atenção: descontração não é sinônimo de humor barato. Programas humorísticos podem muito bem explorar o esporte – um bom exemplo é o Rock Gol, da MTV. Mas aí não pode ser oferecido como jornalismo.

    1. Sim, acho que é possível fazer coisas separadas, mas também é possível unir jornalismo e humor, mas com cuidado! Ana

  6. Eu gosto de jornalismo esportivo e de humor, mas, de preferência, separados.

    Infelizmente ainda impera em algumas redações – em especial de TV – que esporte nada mais é do “algo que mexe com o sentimento”, o que é um tremendo equívoco.

    Pegando apenas o exemplo do futebol: além de mexer com a paixão do torcedor, o esporte envolve economia (transações de atletas; reformas de estádios; renúncias fiscais), direito (trabalhista, principalmente), política (incentivos governamentais), medicina (um “problema do púbis”, por exemplo, não é apenas uma expressão) e por aí vai.

    Isso que aconteceu com o Barcos não me surpreende. Foram fazer piadinha com um jogador recém-chegado, cujo jeito de agir ninguém conhece ao certo. Mas a questão central no caso nem é esta. A questão é que decidem fazer gracinhas desse tipo numa entrevista coletiva, obrigando repórteres de outros veículos de comunicação a aceitar esse tipo de coisa durante o expediente de trabalho. E se alguma outra emissora estiver transmitindo a coletiva ao vivo? Azar o dela? Se essa linha de fazer gracinha é realmente importante, que se faça durante entrevistas exclusivas – até para preservar o entrevistado.

  7. minha namorada é jornalista, mas eu não sou só que como ela disse que tinha um post aqui sobre o Palmeiras, eu resolvi comentar já que é o meu time lindo e glorioso envolvido.
    eu acho que se for analisar mesmo o jornalismo então o Globo Esporte não faz jornalismo. Eles apresentam um programa que fala sobre esporte e que eu gosto quando não fazem piada com o meu time (éééé eu não sou imparcial, fico bravo mesmo). nesse caso da coletiva a piada foi tão sem graça mas tão sem graça que deveriam pedir desculpa pra quem faz humor engraçado de verdade.
    mas sobre ibope realmente o que eles fazem dá ibope. Eu sou altamente influenciado por uma louca jornalista rsrs que me explica esses casos de “é ou não é jornalismo”, mas quem não entende e acho que não tem nada errado nisso, gosta do que eles fazem e a audiência só aumenta.
    um abraço. Muito legal o post!!! Lucas.

    1. Oi, Lucas, obrigada por passar por aqui. Acho que vou escrever mais sobre o Palmeiras (rsrsrs). Só pra reforçar, também sou a favor do humor, inclusive no jornalismo. Mas, no jornalismo, tem que ter cuidado pra não comprometer a informação e o equilíbrio, né? Por falar em piada sem graça, outro dia um amigo meu aqui da Folha, o Sandro Macedo, se saiu com esta: “Você viu o novo apelido do seu time”? (a Portuguesa). Eu, muito ingênua, disse que não. “Ah, agora, em vez de ‘Barcelusa’, virou ‘Barcelooser’ “. Pode? Não pode! =) Abraço e apareça sempre. Ana

      1. que dó, Muito bom o novo apelido, Ana Estela. uahuahuaha. Mas irrita né??
        Que legal que vc torce para a Lusa. Gosto de quem torce para os tradicionais, tipo Portuguesa, Palmeiras, São Paulo huahahua. pode deixar que vou aparecer sempre sim, obrigado. um abraço. Lucas.

  8. Sinceramente, tirando os palavrões – “filho da puta” e “boludo” foram os termos utilizados por Barcos -, achei que foi uma baita resposta do jogador.

    P.S.: Nesta sexta, o Tiago Leifert ainda deu uma tirada no Barcos: http://globoesporte.globo.com/globo-esporte/videos/t/globo-esporte-sp/v/globo-esporte-sp-integra-do-dia-17212/1817547/ (logo no começo do vídeo), dizendo para não chamá-lo de Zé Ramalho – insistindo na brincadeira – e atribuindo a ele a pecha de violento. Achei uma atitude meio covarde por parte do jornalista.

  9. Cabe no jornalismo o humor, porém a informação deve sempre vir em primeiro lugar e no caso do Barcos tinha vários fatores que faziam perceber que naquele momento a comparação já não era mais noticia:

    1- O jogador em diversos momentos deixou claro que não queria falar sobre os apelidos, inclusive durante a entrevista coletiva (e o jogador tem todo direito de se recusar a falar sobre o assunto).
    2- A matéria seria noticia quando o lateral Juninho contou o apelido do jogador pros jornalistas, não depois de mais de uma semana, sendo que passaram praticamente diariamente fazendo matéria sobre o tema (o que tb mostra uma falta de imaginação dos pauteiros).
    3- da forma como o jornalista se portou, ele forçou uma situação, pq mesmo o jogador falando reclamando, o reporter insistia de tal forma que querendo obrigar o jogador a aceitar a brincadeira.
    4- ainda considerando que o jornalista forçou a situação, o momento da coletiva não era o ideal para isso, ele poderia negociar com a assessoria de imprensa para “apresentar” o Zé Ramalho para depois da coletiva, no momento em que escolhe a coletiva, parece que ele tem que aceitar o que o jornalista quer (é diferente, por exemplo, do caso da “Tartaruga Rubinho” que o Panico nunca conseguiria fazer a piada fora da coletiva, mesmo sendo uma situação forçada tb).

    Se eu fosse setorista do Palmeiras nas últimas semanas, eu combinaria com o assessor do clube, assim que surgiu a noticia, para fazer uma reportagem levando um CD do Zé Ramalho para apresentar as musicas dele para o jogador, seria uma reportagem mais leve, com humor, mas não seria forçada e ofensiva como foi a atuação do reporter.

  10. Quando leio comentários de leitor em jornal online é para me dar conta de quão longe a falta de noção humana pode chegar. Isso me diverte, falha minha. Por isso me surprende a qualidade dos comentários aqui, e num assunto bastante propenso a baixarias. Bom carnaval a todos, trabalhando ou não. Já me diverti bastante trabalhando em muitos carnavais.

      1. Sim, nossos leitores são o máximo! Dá até vontade de plagiar o slogan da rádio Eldorado: Novo em Folha, o blog dos melhores leitores! =D Ana
        PS – Cris, como é que coloca emoticom nesse blog? bjs

  11. Aulinha de vida ROINC rsrsrs.

    O fato é que esse tipo de piada só acha graça quem não se interessa pela informação em si, mas pelo apresentador bonitinho, pelo jogo de vídeo-game que ele vai jogar no programa etc e tal.

    Falo isso com propriedade porque estudo jornalismo, mas dou aula de história pra 7o. e 8o. anos e os alunos adoram esse tipo de programa porque é engraçado, porque faz bastante piada. Vide o “ônibus” criado por eles, que foi até um tradicional colégio de SP para fazer o programa ao vivo de lá.

    Qual é o ponto???? O ponto é que para alavancar audiência, vale tudo. Até mesmo um público que não se interessa pelo assunto em si, mas por palhaçada (adolescentes).

    1. É, Marcos, é por aí. Eu nem sou contra piadas. Adoro humor. O problema é misturar com jornalismo. Acho que o CQC costuma fazer isso bem. Mas é preciso sempre tomar cuidado. E não precisa ser na coletiva, né? Acaba atrapalhando o trabalho dos outros…

  12. O problema é que tudo que é engraçado demais um dia perde a graça. E esse em questão começou “inovador”, “irreverente”, mas que agora está chato pra caramba. Se eles não querem levar jornalismo esportivo a sério, então não trabalhem com jornalismo, vão fazer stand up. Aplaudo o que o Fábio Seixas falou!!!
    Levanta a mão quem trabalha nesse carnaval o/ o/ o/.

  13. Sou totalmente a favor do humor em quaisquer tipos de pautas. Acho que nem sempre o humor precisa acrescentar informação, basta saber se colocar.

    Nesse caso, o repórter colocou a comparação entre o jogador e cantor em primeiro plano. E pior: não estava preparado para um comportamento oposto do “engraçadinho”.

    Se há um bate-papo e o cara solta uma comparação no meio da conversa para descontrair o texto, juntamente com um contexto mais leve, acho válido.

    Trabalhar com elementos de humor no jornalismo não é tão fácil quanto parece.

    1. Ailton, é mesmo uma questão de contexto. Se o pessoal que faz a contracapa do caderno de Esporte na Folha colocasse ali o Barco ao lado do Raul Seixas (ou Zé Ramalho, que seja), não teria problema nenhum. Ali eles só fazem mesmo humor. De vez em quando, soltam uma piada sem graça, como, por exemplo, vir me dizer que em vez de “Barcelusa” a Portuguesa agora é a “Barcelooser”… Mas ninguém acerta todas, né? =D

  14. não consigo imaginar também alguém passando uma foto pra Hillary heheh. Mas eu acho que humor é diferente de brincadeira e ultimamente o que vem acontecendo (na tv) é brincadeira. Com certeza, Hernan Barcos poderia não ter falado nada e teria ficado por isso mesmo. Mas irrita esse tipo de programa que leva mulheres ao estúdio com shortinho curto, agarrado, blusinha justa, e que é chamado de jornalismo pelo país afora.
    No caso da coletiva do palmeiras foi que, além de não acrescentar nada (como o MarceloSoares falou), cade a graça na piada??

    1. É isso, Felipe. O foco tem que ser sempre na informação. Você está lá para esclarecer seu público. Essa tem que ser a prioridade de todo jornalista. Abraços, Ana

  15. Esse limite era algo que eu sempre conversava com o pessoal da MTV, quando eu trabalhava lá. Com o relativo sucesso do CQC, ficou tentador pra qualquer um fazer jornalismo-piada.

    Acho que usar bom humor para fazer jornalismo é uma coisa altamente saudável; transformar a matéria numa piada é outra bem diferente. Por conta do humorismo do CQC (que eu acho válido como humorismo), tivemos que tomar um chá de banco e ouvir sermão pra convencer a Câmara dos Deputados a credenciar a MTV em 2010.

    Acho que o limite é o seguinte: a forma como se usou o humor acrescentou informação? Se não acrescentou, é dispensável.

    Mostrar uma matéria de cinco minutos com um fulano correndo atrás de um político pra ver se ele coloca óculos escuros não acrescenta informação nenhuma, acho. Assim como perguntar se o jogador se acha parecido com sei lá quem também não.

    O que acrescenta, porém? Acho que a seção Humor no Jornalismo está cheia de exemplos.

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