Operação Lava Jato não deve mudar política no Brasil como a Mãos Limpas na Itália, diz jornalista

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Apesar das semelhanças entre a Operação Lava Jato e a Operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália na década de 1990, é improvável que o Brasil passe por uma mudança política como a ocorrida no país europeu, afirma o jornalista italiano Rocco Cotroneo do “Corriere della Sera”.

Segundo ele, um ano e dois meses após a deflagração da operação, os principais partidos italianos deixaram de existir, dando lugar a um sistema com dois polos partidários principais. “No Brasil, não há sinais de que isso possa mudar no curto prazo”, afirmou durante debate na Folha nesta quarta-feira (27), acrescentando que, por isso, seria difícil um político como Berlusconi chegar ao poder aqui.

Correspondente do jornal italiano "Corriere della Sera" no Brasil, Rocco Cotroneo (Foto: Reprodução/Twitter)
Correspondente do jornal italiano “Corriere della Sera” no Brasil, Rocco Cotroneo (Foto: Reprodução/Twitter)

Para Cotroneo, no entanto, a discussão em torno da Operação Mãos Limpas foi muito semelhante à que envolve a Lava Jato. Ele ressaltou que a sensação de novidade, de novas fronteiras, era a mesma daqui ou até maior.

Um dos motivos para isso seria o fato de a Lava Jato se basear no mesmo tripé da Operação Mãos Limpas: novos juízes mais corajosos e independentes, novas possibilidades no campo judicial e a opinião pública.

Uma outra semelhança seriam os vazamentos, também comuns na operação italiana. “Eles eram um aviso ao próximo delator para que se apresentasse sozinho, para que não fosse preso”, afirmou Cotroneo. Segundo ele, o uso da delação premiada tornou-se tão comum que praticamente todos os presos tiveram a pena reduzida.

O jornalista também afirmou que, após dois anos, a opinião pública italiana começou a se voltar contra a operação. Um dos motivos seria o fato de a Justiça passar a apurar casos de sonegação de impostos, o que atingiu uma parcela maior da população. Casos violentos de suicídio de investigados também ajudaram a mudar a visão do público, segundo ele.

Após o encerramento das Mãos Limpas, Cotroneo destacou a criação de uma “corrupção 2.0” no país, em que “políticos corruptos estão mais cuidadosos e a corrupção se tornou mais difícil de cobrir”.

“Existem coisas boas deixadas pela Mãos Limpas, mas não posso dizer que hoje o jornalismo na Itália vive um momento melhor do que na década de 1990”, afirmou.